Shruti Mistry | 2023

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Narrativas sobre Narrativas: Como o compartilhamento de histórias permite a autoconstrução

Shruti Mistry | 2023

Pego minha filmadora, ansioso para documentar a performance dos dois rappers que meu grupo de pesquisa acabara de entrevistar. Bruno e Phillipe, que também atende pelo nome de Dr. Lagos, apresentaram duas músicas: uma sobre desigualdades sociais e outra sobre tempo e fé. Apesar da barreira do idioma, ainda me senti conectado à música e ao ritmo deles. Aplaudimos no final, e eu estava borbulhando de entusiasmo, compartilhando que eu também faço poesia e escrevo sobre questões sociais. Senti uma conexão ainda mais profunda ao saber que, assim como eles, eu também comecei a desenvolver minha prática e identidade como artista com um mentor no ensino médio. O que eu não esperava era o seguinte: “Você quer fazer uma apresentação para eles?” perguntou meu tutor. Eu também não esperava que acabaria fazendo isso. Apresentei uma peça sobre equidade e feminismo, e Michele traduziu um resumo para eles. “Rap é sinônimo de ritmo e poesia”, explica nosso tutor a Bruno e Phillipe no final. Eles sorriram e deram uma risadinha em resposta.

Com essa entrevista e as seguintes, percebi que as respostas ou interações surgiram em anedotas ou histórias. Mais precisamente, notei que a forma e o conteúdo dessas histórias eram, em sua maioria, artísticos ou culturais, e destacavam figuras importantes na vida dos entrevistados. Defendo que os indivíduos marginalizados se constroem por meio de suas histórias. Uma maneira de conseguir isso é a forma como os entrevistados falam de seus mentores e guias, e outra é por meio de histórias aninhadas em expressões e práticas artísticas e culturais, bem como em sua natureza imersiva.

Exposição e ação crescente: Metodologia

Os dados para esta análise são provenientes da participação em um curso de pesquisa de campo de três semanas em Serra Grande e Ilhéus, mas principalmente em Itacaré. Dos quinze alunos, dois outros alunos e eu tínhamos um interesse coletivo principal de pesquisa em raça e gênero. Nossa tutora e tradutora, Michele, mora em Itacaré há quase duas décadas e agora trabalha com grupos de meninas locais. Antes de entrar em campo todos os dias, nosso grupo selecionava perguntas específicas para nosso(s) entrevistado(s) com base em nossas perguntas preliminares de pesquisa e nas informações sobre o entrevistado. A maior parte dos dados do meu trabalho de campo resultou de três semanas de entrevistas semiestruturadas e informais, além de observação participante com membros da comunidade, líderes, ativistas e grupos religiosos. Coletamos nossos dados em visitas planejadas com gravações, anotações, vídeos e fotos, seguidos de notas de campo.

Embora nossa tutora tenha escolhido a maioria de nossos entrevistados em campo, é importante considerar que ela conhecia pessoalmente a maioria deles. Embora isso tenha limitado as pessoas com quem acabamos falando, também tornou cada uma dessas experiências única, pois o relacionamento dela com eles afetou o fluxo e o nível de conforto das entrevistas. Também não entrevistamos muitos indígenas, portanto os dados se concentram principalmente nos entrevistados afro-brasileiros. Outra limitação foi a barreira do idioma, pois nenhum de nós entendia o português suficientemente bem para se comunicar de forma eficaz. Dessa forma, é possível que algumas mensagens tenham se perdido na tradução. Por fim, a posição dos membros do meu grupo e a minha própria posição como imigrante canadense de segunda geração, parda, não binária e de classe média certamente impactaram a natureza da entrevista. A partir de uma lente de relativismo cultural, reconheço que meus privilégios, valores e crenças influenciaram inevitavelmente as perguntas que fiz e a forma como os entrevistados decidiram responder.

Essa análise é apoiada pelo imperativo narrativo do antropólogo Michael Jackson, citado no texto de DeVore (Jackson 2002, conforme citado em DeVore 2014). O imperativo narrativo vê “a narração de histórias como uma estratégia humana vital para sustentar um senso de agência em face de circunstâncias desempoderadoras” (8). Os meios que as histórias de empoderamento e desempoderamento utilizaram variaram muito em cada entrevista, mas ambos agiram como motivadores para que nossos entrevistados compartilhassem suas experiências. Munz (2017) também defende que “quando o entrevistado é empoderado, a entrevista etnográfica se torna a plataforma por meio da qual os membros da comunidade podem compartilhar aspectos significativos de suas experiências vividas” (4). Portanto, explorar as experiências imersivas em nossas entrevistas foi uma parte significativa desta análise, uma vez que o empoderamento e o desempoderamento impactaram a construção das identidades dos entrevistados. O texto de Munz continua a descrever como a natureza dessas entrevistas “pode ajudar a dar sentido a rituais e práticas, pois o pesquisador pode pedir a alguém que explique uma prática na qual a pessoa está envolvida no momento” (2). A análise a seguir considera esses atributos da entrevista e da narração de histórias como fundamentais para minha pesquisa.

Clímax: Construção do eu por meio da mentoria

As histórias que alguns entrevistados compartilharam se concentraram mais em suas experiências como mentorados e mentores em ambientes formais, aderindo à definição tradicional de mentoria. Ser mulher e líder em espaços de mentoria foi um tema popular que emergiu de minha pesquisa. Vi a mentoria em ação quando visitei o Clube das Meninas no Bairro Novo, em Itacaré. Nossa tutora Michele se reúne semanalmente com meninas de 13 a 18 anos para ajudá-las a desenvolver confiança e conhecimento sobre empreendedorismo e saúde da mulher. Meu grupo testemunhou em primeira mão como era um espaço seguro para as meninas discutirem tópicos estigmatizados, como saúde sexual e prevenção de DSTs. Ao discutir gênero, mencionei a identidade de gênero não binária, que depois expliquei a Michele para traduzir. Para minha surpresa, as meninas estavam um pouco familiarizadas com isso por meio das mídias sociais, ensinando a Michele pronomes neutros de gênero em português. Essa troca de aprendizado e ensino está de acordo com a crença de Freire de que “um educador bem-sucedido [não] simplesmente transmite conhecimento a seus alunos, mas defende o diálogo entre alunos e professores” (Freire, “Education as a Practice of Freedom”, 396). Mentores e pupilos aprendem uns com os outros para cocriar interações, e um não pode existir sem o outro.

Bruno, um dos rappers que entrevistamos, compartilhou histórias de seus mentores e inspirações específicas do setor musical. Ao sair de uma situação financeiramente instável e abusiva em casa, Bruno encontrou a Casa do Boneca, um lugar que preserva a cultura afro-brasileira por meio de práticas como o ensino de tambores e capoeira. O filho do líder, Big Jorge (como Bruno e Phillipe o chamaram), tornou-se o mentor de Bruno para compor músicas e fazer rap. A Casa do Boneca também o ajudou a seguir suas paixões e a cultivar sua voz fora da música baiana, chegando a se apresentar com artistas maiores. O imperativo narrativo também prevalece na jornada de Bruno para se tornar um rapper, como ele diz, “você escreve o que está próximo de você”, que na época era um material mais pesado (por exemplo, tráfico de drogas), e agora ele já passou. “Reconstituir eventos em uma história não é mais viver esses eventos em passividade, mas retrabalhá-los ativamente, tanto no diálogo com os outros quanto na própria imaginação” (Jackson 2002, conforme citado em DeVore 2014, pp. 8-9). Bruno refinou suas experiências por meio de suas canções e de seu tempo na Casa do Boneca.

Alguns de nossos outros entrevistados eram pessoas orientadas por figuras familiares importantes que ajudaram a moldar suas experiências e caminhos na vida. Em uma noite, meu grupo, juntamente com o grupo de conhecimento tradicional e educação, visitou o Terreiro Matamba Tombency Neto, que é um espaço religioso e centro cultural da religião afro-brasileira Candomblé em Ilhéus. Estávamos reunidos em uma grande sala, ouvindo atentamente as histórias de Mãe Ilza, a matriarca chefe do Terreiro, de 89 anos. Ela nos conta que levou dois anos para decidir se assumiria esse cargo após o falecimento de sua mãe. Nesse terreiro, a chefia segue uma sucessão dentro da família, sendo que as filhas da matriarca geralmente assumem a liderança. “Deixar a herança é uma responsabilidade para mim”. Mãe Ilza falou sobre o desenvolvimento de si mesma por meio do relacionamento com sua mãe e seus ancestrais. “Cheguei, por meio da história de minha mãe, onde estou hoje.” Sua mãe deu apoio aos membros da família para que completassem as iniciações para fazer parte do Candomblé. Sua vizinhança concorda que Mãe Ilza é exatamente como sua mãe, e como ela também se tornou uma mentora para sua filha, netas e sua comunidade religiosa. Todos os seus filhos e netos também foram iniciados por conta própria, optando voluntariamente por manter a herança viva. Olhei para as fotos dos líderes do passado, exibidas em porta-retratos ao lado dos orichas, e compreendi melhor seu papel e sua influência positiva como mentora.

A conexão com os ancestrais foi outro tema comum que surgiu nas histórias. A turma sentou-se na casa de Adria, em Serra Grande, com Barbara Flores, uma ativista ambiental indígena. Bárbara compartilhou uma linha do tempo de histórias para descrever como sua tribo no estado de Minas Gerais sofreu um genocídio cultural e como ela ficou com um “vazio existencial” quando lhe ensinaram que os povos indígenas não existiam mais no Brasil. Seu pai também costumava levá-la para se conectar com a natureza e seu tio lhe disse para “ir atrás de [suas] raízes porque [ele] não tem muito tempo”. Ela então concluiu a universidade na Bahia e trabalhou com a tribo Tupinamba, que também foi declarada extinta na época. Rapidamente, ela se tornou parte da família deles, chamando-os de parentes, e nos descreveu como suas “raízes se encontram dentro da terra”. Barbara continua refletindo sobre sua busca por meio do diálogo. “Viver com a tribo Tupinamba acendeu algo dentro de mim, acendeu uma memória de quem somos. Disseram-me para ir atrás de minha história, origem e parentesco. Dê poder a você mesma.” Muitas pessoas na jornada de autodescoberta de Barbara e sua eventual família escolhida a incentivaram a se reconectar com suas origens indígenas. Sua família e a tribo Tupinamba foram catalisadores importantes para essa busca, e o significado concedido a esses indivíduos por meio de sua narrativa reforça a construção de sua identidade hoje.

Outro exemplo é o de uma mulher chamada Claudia, líder do bicho casador em Porto de Trás, Itacaré, uma manifestação cultural afro-brasileira. Como líder, ela tem enfrentado desafios com suas responsabilidades, contando-nos histórias de como as pessoas criticam rapidamente suas decisões, e muitas vezes se sente frustrada. Ela lida com isso apoiando-se em sua espiritualidade, nos orichas e nos cantores afro-brasileiros. “O Bicho Casador ajuda a pessoa a recuperar sua identidade, principalmente por meio do movimento quilombola.” Claudia se via apenas como uma mulher negra, até que falou de Dona Ochilia, que transmitiu conhecimentos para ajudá-la a entender a importância de ser uma mulher quilombola. “As pessoas têm que perceber sua própria importância para se reconhecerem... Eu sei que sou importante para a história e para a minha comunidade”, diz ela, enquanto sua postura não se inclina nem um centímetro, e seus lábios permanecem em uma linha reta e franzida. Há um forte tom de orgulho em sua voz e em seu espírito.

Clímax Cont..: Construção do eu por meio da expressão

Nosso trabalho de campo foi único, pois tivemos a oportunidade de conversar com muitas pessoas que participavam de expressões artísticas ou culturais. Por meio de movimentos, música e palavras, esses meios ajudam a transmitir as histórias dos entrevistados e, consequentemente, a construir a identidade. Muitos entrevistados nos contaram histórias sobre os motivos que os levaram a fazer sua arte, a maioria referindo-se a um significado histórico ou cultural. Nesse caso, foi algo pessoal para nosso entrevistado, Bruno. “A música é uma fuga. Quando descobri a arte, percebi que ela poderia me libertar. Isso me motiva a continuar. Para continuar estudando, para trabalhar mais.” As histórias dos rappers sobre como se tornaram músicos começam em sua infância e são entrelaçadas às histórias das letras de suas músicas. Além disso, Phillipe também reconhece sua influência positiva como rapper e modelo. “Sei que estou fazendo a coisa certa”. Ele não apenas construiu sua identidade artística por meio da música, mas também como mentor e inspiração para outros, possibilitando assim um ciclo de feedback positivo de autodesenvolvimento.

Em outros casos, os entrevistados se concentraram em sua expressão em relação à história e à cultura. Quando nos sentamos na Associação Cultural Tribo do Porto com o grupo de turismo e migração, nosso tutor e três mestres de capoeira, a entrevista começou com um samba. Os mestres explicaram que a música era sobre escravidão e que, apesar do fato de um país e uma nação terem sido construídos, eles ainda carregam o fardo da opressão. Recebemos mais histórias sobre como a capoeira, uma mistura de dança, luta e artes marciais, surgiu em resposta à igualdade e à liberdade, como ela já foi ilegal e seus laços com os quilombos. “Minha primeira apresentação foi meu primeiro passo para a liberdade”, afirma Mestre Comprido. Para ele, entender sua cultura afro-brasileira o ajudou a aceitar partes de si mesmo. Por outro lado, Mestre Madrugada sente a obrigação de levar adiante a cultura para mantê-la viva. “Ela me ajuda a fugir de tudo o que é ruim”, explica ele, em sintonia com a sensação de fuga descrita na entrevista do rapper. Enquanto continuávamos a aprender sobre a capoeira, a sala se tornava cada vez mais convidativa. Eles tocavam samba entre nossas perguntas, integrando-se perfeitamente ao diálogo. Por fim, o Mestre Comprido nos convidou para aprender os movimentos básicos da Capoeira Regional. Comecei a suar quase imediatamente, percebendo que minha camisa grossa de algodão não era ideal para essa sessão. Mas a participação me fez respeitar essa arte marcial semelhante à dança mais do que eu poderia imaginar. Quando eles nos incentivaram a encontrar um grupo de capoeira no Canadá, percebi como a imersão de outras pessoas em sua prática faz parte da forma como eles se constroem como mentores. No meio do caminho, dois estrangeiros que estavam praticando com esses mestres nos últimos meses se juntaram à nossa sessão. Eles contaram a história de sua vinda para Itacaré e que a capoeira é a razão pela qual eles ficaram por mais tempo do que o esperado. Com essa interação, vejo como os mentores não existem sem os pupilos e como eles fazem parte das histórias uns dos outros.

Outras formas de expressão foram bastante literais, ocorrendo por meio de filmes autobiográficos. Myreille, uma mulher que nasceu menino, nos mostrou um vídeo no final de nossa entrevista, no qual ela interagia com confiança com os membros da comunidade para mostrar como afirmava sua identidade de gênero (por exemplo, close-up de batom e roupas). Quando o vídeo termina, ela expressa sua vontade de participar de projetos criativos, como filmes. O vídeo iluminou sua personalidade, e eu também tive uma noção melhor de seu lugar na comunidade. Também descobrimos que ela fundou um grupo de dança afro em Itacaré depois de ter dançado jazz e balé. Notavelmente, ela foi a primeira mulher nascida menino a fazer uma apresentação de dança em Itacaré. A dança sempre foi uma parte importante de sua vida, e ela fez questão de se destacar em danças dominantes femininas, como o jazz. Para Myreille, a dança é uma grande parte da forma como ela se sente respeitada e empoderada como mulher quilombola.

As histórias estão ao nosso redor em todos os lugares, principalmente nas interações informais. Depois de um longo dia, dois dos tutores, Neide e Santiago, foram à casa de Adria em Serra Grande para revigorar nosso espírito com um pouco de samba. Havia um clima pesado no ar quando começamos, algo que Neide mencionou mais tarde ter notado. Cada um de nós se revezou tocando diferentes instrumentos, hesitantemente no início, enquanto sua voz poderosa ecoava e reverberava na estrutura de madeira da casa, com nosso professor traduzindo as letras dos sambas. Neide também é professora na escola local e nos conta como “o samba a faz se sentir viva mesmo depois de um dia longo e cansativo. [Ela nunca se cansa de tocar samba”. Começamos a dançar, e a energia muda pelo resto da noite quando todos começamos a cantar junto. Lembrei-me de que Barbara fez algo semelhante quando a classe estava se sentindo incrivelmente emocionada, aberta e vulnerável depois de ouvir sua história sobre sua ascendência e depois de termos compartilhado a nossa. Ela cantou para nós, conduziu-nos por práticas espirituais e terminou acendendo uma fogueira, na qual cada um de nós queimou pequenos pedaços de tabaco. “Dançamos, cantamos, escrevemos poesia para evitar que o céu caia. E, embora haja lutas, também temos vitórias e felicidade.” Essas experiências imersivas não só funcionam como pequenos blocos de construção para a construção de Barbara como ativista indígena, mas também para todos os outros envolvidos na interação. Por meio de relatos orais sobre a história da Bárbara, da conexão com nossa espiritualidade e do samba com a Neide, entendi como essa interação cocriada era necessária para todos nós.

A Ferinha: ação de queda e resolução

Todos nós somos personagens essenciais nas histórias uns dos outros. Entendo isso em toda a sua essência quando estamos reunidos na ferinha de sexta-feira em Serra Grande, significando o fim de nossa pesquisa e do curso. Nossos pôsteres foram pendurados em uma sala decorada para que os membros da comunidade e os entrevistados pudessem interagir. Michele apresenta Neide e Claudia, que rapidamente criam laços, o que não teria acontecido de outra forma, já que elas moram em partes diferentes da Bahia. A noite é recebida com pessoas, discursos, dança, capoeira e samba. Eu participo do samba e vejo outros alunos participarem da capoeira.

Esta pesquisa nos informa que a presença e a posição das pessoas são valiosas para moldar as histórias dos outros. Os mentores e guias também são figuras benéficas que, juntamente com a construção do conhecimento, ajudam a incentivar, capacitar e conectar pessoas marginalizadas. Os mentores aprendem com seus pupilos, criando trocas de conhecimento. Quando as histórias são expressas por meio de diferentes formas de expressão criativa ou cultural, elas não apenas ajudam a construir, mas também informam e afirmam as identidades das pessoas. Em última análise, essas mídias ajudaram nossos entrevistados a se conectar e preservar a cultura e a história afro-brasileira e indígena, criando ao mesmo tempo espaços imersivos. E, embora algumas dessas histórias tenham sido cocriadas conosco, elas ainda são suas histórias. Devemos centralizar as vozes, histórias e experiências marginalizadas e dar a elas o poder das palavras.

Bibliografia

DeVore, Jonathan D. 2014. “Cultivating Hope: Struggles for Land, Equality, and Recognition in the Cacao Lands of Southern Bahia, Brazil”. PhD, Ann Arbor, MI: Universidade de Michigan.

Jackson, Michael. 2002. The Politics of Storytelling: Violence, Transgression, and Intersubjectively. Copenhague, Dinamarca: Museum Tusculanum Press. Citado em DeVore, Jonathan D. 2014. “Cultivating Hope: Struggles for Land, Equality, and Recognition in the Cacao Lands of Southern Bahia, Brazil”. PhD, Ann Arbor, MI: Universidade de Michigan. 8.

Freire, Paulo. 1967. “Education as a Practice of Freedom”, em The Brazil Reader: History, Culture, Politics, editado por James N. Green, Victoria Langland e Lilia Moritz Schwarcz. Durham and London 396-398. Durham e Londres: Duke University Press. 2019.

Munz, Elizabeth A. 2017. “Ethnographic Interview”. Em The SAGE Encyclopedia of Communication Research Methods, editado por Mike Allen. 2455 Teller Road, Thousand Oaks California 91320: SAGE Publications, Inc.


Narratives about Narratives: How Sharing Stories Enables Self-Construction

Shruti Mistry | 2023

I pull out my camcorder, eager to document the performance of the two rappers my research group had just interviewed. Bruno and Phillipe, who also goes by Dr. Lagos, performed two songs; one about social inequalities, and the other about time and faith. Despite the language barrier, I still felt connected to their music and rhythm. We applauded at the end, and I was bubbling with excitement, sharing that I too perform my poetry and write about social issues. I felt an even deeper connection knowing that like them, I also began to develop my practice and identity as a performer with a mentor in high school. What I did not expect was the following: “Do you want to perform something for them?” My tutor asks. I also did not expect myself to end up doing so. I perform a piece about equity and feminism, and Michele translates a summary for them. “Rap stands for rhythm and poetry,” our tutor explains to Bruno and Phillipe at the end. They smiled and chuckled in response.

With this interview and the ones onwards, I realized that the responses or interactions came out in anecdotes or stories. Precisely, I noticed that the form and content of these stories were mostly artistic or cultural, and highlighted important figures in the interviewees' lives. I argue that marginalized individuals construct themselves through their stories. One way this is achieved is how interviewees speak of their mentors and guides, and another is through stories nestled in artistic and cultural expression and practices, as well as the immersive nature of them.

Exposition and Rising Action: Methodology

The data for this analysis comes from participating in a three-week field research course in Serra Grande and Ilhéus, but mostly from Itacaré. Out of the fifteen students, two other students and I had a main collective research interest in race and gender. Our tutor and translator, Michele, has lived in Itacaré for almost two decades, now working with local girls groups. Before entering the field each day, our group curated questions specific to our interviewee(s) based on our preliminary research questions and the information about the interviewee. Most of my fieldwork data came out of three weeks of semi-structured and informal interviews, and participant observation with community members, leaders, activists, and religious groups. We collected our data at planned visits with recordings, scratch notes, videos, and photos, followed by fieldnotes.

While our tutor chose most of our interviewees in the field, it is important to consider that she personally knew most of them. While this limited who we ended up speaking with, it also made each of these experiences unique, as her relationships with them impacted the flow and comfort level of the interviews. We also did not interview many Indigenous people, so the data focuses primarily on Afro-Brazilian interviewees. Another limitation was the language barrier, as none of us understood Portuguese well enough to effectively communicate. As such, it is possible some messages were lost in translation. Finally, my group members’ positionality and my own as a brown, non-binary, and second-generation Canadian immigrant of middle-class status certainly impacted the nature of the interview. From a lens of cultural relativism, I recognize that my privileges, values, and beliefs inevitably influenced the questions I generated, and how the interviewees choose to respond.

This analysis is supported by anthropologist Michael Jackson’s narrative imperative, cited in DeVore’s text (Jackson 2002, as cited in DeVore 2014). The narrative imperative sees “storytelling as a vital human strategy for sustaining a sense of agency in the face of disempowering circumstances” (8). The mediums that stories of empowerment and disempowerment took varied vastly with each interview, but both acted as motivators for our interviewees to share their experiences. Munz (2017) further supports that “when the interviewee is empowered, the ethnographic interview becomes the platform through which community members can share meaningful aspects of their lived experiences” (4). Hence, exploring the immersive experiences in our interviews was a significant part of this analysis since empowerment and disempowerment impacted the construction of the interviewees’ identities. Munz’ text continues to describe how the nature of these interviews “can help make sense of rituals and practices as the researcher might ask someone to explain a practice in which the person is currently engaged” (2). The following analysis considers these attributes of interviewing and storytelling as foundational to my research.

Climax: Construction of Self through Mentorship

Stories that some interviewees shared focused more on their experiences as mentees and mentors in formal settings, adhering to the traditional definition of mentorship. Being a woman and a leader in mentorship spaces was a popular theme that emerged from my research. I saw mentorship in action when visiting the Girls Clubs in Bairro Novo, Itacaré. Our tutor Michele meets weekly with girls aged 13 to 18 years to help them develop confidence and knowledge about entrepreneurship and women’s health. My group witnessed firsthand how it was a safe space for the girls to discuss stigmatized topics, such as sexual health and prevention of STDs. When discussing gender, I brought up non-binary gender identity, which I then proceeded to explain to Michele for translation. To my surprise, the girls were somewhat familiar with this through social media, teaching Michele gender neutral pronouns in Portuguese. This exchange of learning and teaching resonates with Freire’s belief that “a successful educator [does] not simply transmit knowledge to their students, but advocates for dialogue between students and teachers” (Freire, “Education as a Practice of Freedom,” 396). Mentors and mentees learn from each other to co-create interactions, and one cannot exist without the other.

Bruno, one of the rappers that we interviewed, shared stories of his mentors and inspirations specific to the music industry. In the midst of leaving a financially unstable and abusive situation at home, Bruno found Casa do Boneca, a place that preserves Afro-Brazilian culture through practices such as teaching drums and capoeira. The leader’s son, Big Jorge (as coined by Bruno and Phillipe), became Bruno’s mentor for songwriting and rapping. Casa do Boneca also helped him to follow his passions and cultivate his voice outside of Bahian music, eventually getting to perform with bigger artists. The narrative imperative is also prevalent in Bruno’s journey of becoming a rapper, as he says, “you write what is in proximity to you,” which at the time, was heavier material (e.g., drug trafficking), and he is now past. “To reconstitute events in a story is no longer to live those events in passivity, but to actively rework them, both in dialogue with others and within one's own imagination" (Jackson 2002, as cited in DeVore 2014, 8-9). Bruno has refined his experiences through his songs, and through his time at Casa do Boneca.

Some of our other interviewees consisted of people mentored by significant family figures that helped shape their experiences and paths in life. One evening, my group along with the traditional knowledge and education group, visited the Terreiro Matamba Tombency Neto, which is a religious space and cultural center for the Afro-Brazilian Candomblé religion in Ilhéus. We were gathered in a big room, intently listening to the stories of Mãe Ilza, the 89-year-old head matriarch of the Terreiro. She tells us how she took two years to decide whether she was going to take on this position after her mother had passed. In this Terreiro, the head follows a succession within the family, with the daughters of the matriarch often taking over as leader. “Leaving heritage is a responsibility for me.” Mãe Ilza spoke about developing herself through her relationship with her mother and ancestors. “I arrived through the history of my mother, where I am today.” Her mother gave support to family members to complete initiations to be part of Candomblé. Her neighbourhood agrees that Mãe Ilza is just like her mother, and how she too became a mentor for her daughter, granddaughters, and their religious community. All her children and grandchildren were also initiated on their own accounts, voluntarily choosing to keep the heritage alive. I glanced at the photos of the past leaders displayed in picture frames alongside the orichas, and better understood her role and positive influence as a mentor.

Connection with one’s ancestry was another common theme that emerged through stories. The class sat in Adria’s house in Serra Grande, with Barbara Flores, an Indigenous, environmental activist. Barbara shared a timeline of stories to depict how her tribe in the state of Minas Gerais experienced a cultural genocide, and how she was left with an “existential emptiness” when she was taught that Indigenous people no longer existed in Brazil. Her fatheralso  used to take her to connect herself with nature, and her uncle had told her to, “go after [their] roots because [he doesn’t] have much time.” She then  completed university in Bahia and worked with the Tupinamba tribe, which was also declared extinct at the time. Quickly, she became part of their family, calling them relatives, and described to us how their “roots meet within the earth.” Barbara continues reflecting on her search through dialogue. “Living with the Tupinamba tribe lit something inside me, lit a memory of who we are. I was told to go after my history, origin, and kin. Empower yourself.” Many people in Barbara’s journey of self-discovery and eventual chosen family encouraged her to reconnect with her Indigenous origins. Her family and the Tupinamba tribe were important catalysts for this search, and the significance granted to these individuals through her storytelling reinforces the construction of her identity today.

Another example is a woman named Claudia, the lead of bicho casador in Porto de Trás, Itacaré, an Afro-Brazilian cultural manifestation. As the lead, she has experienced challenges with her responsibilities, telling us stories of how people are quick to criticize her decisions, and often feels frustrated. She copes with this by leaning into her spirituality, the orichas, and Afro-Brazilian singers. “Bicho casador helps one reclaim their identity, mostly through the quilombola movement.” Claudia only saw herself as a Black woman, until she spoke of Dona Ochilia, who passed down knowledge to help her understand the importance of being a quilombola woman. “People have to realize their own importance to recognize themselves… I know I’m important for history and my community,” she says, as her posture does not slouch the slightest inch, and her lips remain in a straight, pursed line. There is a strong tone of pride in her voice and spirit.

Climax Cont.: Construction of Self through Expression

Our fieldwork was unique in that we had the chance to speak with many people who took part in artistic or cultural expression. Through movement, music, and words, these mediums help convey the interviewee’s stories and consequently, construct identity. Many interviewees told us stories of why they do their art, mostly referring to historical or cultural significance. In this case, it was personal to our interviewee, Bruno. “Music is an escape. When I found art, I realized it could free me. This motivates me to keep going. To keep studying, to work harder.” The rappers’ stories of how they became musicians start in their childhood and are woven into the stories in their song lyrics. Furthermore, Phillipe also acknowledges his positive influence as a rapper and a role model. “I know I am doing the right thing.” Not only has he constructed his artistic identity through music, but also one of a mentor and inspiration to others, thereby enabling a positive feedback loop of self-development.

In other instance, interviewees focused on their expression as it relates to history and culture. As we sat in the Associação Cultural Tribo do Porto with the tourism and migration group, our tutor, and three capoeira masters, the interview began with samba. The masters explained that the song was about slavery, and how despite the fact that a country and nation was built, they still carry the burden of oppression. We were met with more stories of how capoeira, a mix of dance, fight, and martial arts, emerged in response to equality and freedom, how it was once illegal, and its ties with quilombos. “My first performance was my first step to freedom,” affirms Mestre Comprido. For him, understanding his Afro-Brazilian culture helped him to accept parts of himself. For another, Mestre Madrugada feels an obligation to carry on the culture to keep it alive. “It helps me get away from everything that is bad,” he elaborates, resonating with the sense of escape described in the rapper’s interview. As we continued learning about capoeira, the room became increasingly more inviting. They played samba in between our questions, seamlessly weaving into the dialogue. Eventually, Mestre Comprido invites us to learn the foundational moves of Capoeira Regional. I started sweating almost immediately, realizing my thick, cotton shirt was not ideal for this session. But the participation made me respect this dance-like martial art more than I would have imagined. When they encouraged us to find a capoeira group back in Canada, I realized how immersing others into their practice is part of how they construct themselves as mentors. Half-way through, two foreigners who have been practicing with these masters for the past few months joined our session. They shared their story of coming to Itacaré, and that capoeira is the reason they have stayed for longer than expected. With this interaction, I see how mentors do not exist without mentees, and how they are part of each other’s stories.

Other forms of expression were quite literal, occurring through autobiographical film. Myreille, a woman who was born a boy, showed us a video at the end of our interview, in which she confidently interacted with community members to showcase how affirmed her gender identity (e.g., closeup of putting on lipstick and dressing up). When the video ends, she expresses her eagerness to take part in creative projects such as films. The video illuminated her personality, and I also gained a better sense of her place in the community. We also found out that she founded an Afro-dance group in Itacaré after having danced in jazz and ballet. Notably, she was the first woman born a boy to do a dance performance in Itacaré. Dance was always a big part of her life, and she made sure to excel in female dominant dances, such as jazz. For Myreille, dance is a big part of how she feels respected and empowered as a quilombola woman.

Stories are around us everywhere, particularly in informal interactions. After a long day, two of the tutors, Neide and Santiago, came to Adria’s house in Serra Grande to invigorate our spirits with some samba. There was a heaviness in the air when we started, something that Neide later mentions noticing. Each of us took turns playing different instruments, hesitantly at first, as her powerful voice echoed and reverberated off the wooden structure of the house, with our professor translating lyrics of the sambas. Neide is also a teacher in the local school, and she tells us how “samba makes [her] feel alive even after a long, tiring day. [She] never get[s] tired of playing samba.” We proceed to dance, and the energy shifts for the remainder of the evening as we all begin to sing along. I recalled that Barbara did something similar when the class was feeling incredibly emotional, open, and vulnerable after listening to her story about her ancestry, and after we had shared our own. She sang for us, led us through spiritual practices, and ended with lighting a fire, in which we each burned small pieces of tobacco. “We dance, sing, write poetry to keep the sky from falling. And while there are struggles, we have victories and happiness too.” These immersive experiences not only act as small building blocks to Barbara’s construction of herself as an Indigenous activist, but everyone else involved in the interaction. Through oral recounts of Barbara’s history, connecting with our spirituality, and samba with Neide, I understood how this co-created interaction was necessary for all of us.

The Ferinha: Falling Action and Resolution

We are all essential characters in each other’s stories. I understand this in its full essence when we are gathered at Friday’s ferinha in Serra Grande, signifying the end of our research and the course. Our posters hung in a decorated room for community members and interviewees to interact with. Michele introduces Neide and Claudia, who quickly bond, and would not have done so otherwise as they live in different parts Bahia. The evening is greeted with people, speeches, dance, capoeira, and samba. I participate in the samba, and watch other students join capoeira.

This research informs us that people’s presence, and positionalities, are valuable in shaping others’ stories. Mentors and guides are also beneficial figures that alongside knowledge building, help to encourage, empower, and connect marginalized people. Mentors learn from their mentees, creating exchanges of knowledge. When stories are expressed through different forms of creative or cultural expression, they not only help to construct, but inform and affirm people’s identities. Ultimately, these mediums helped our interviewees connect with and preserve Afro-Brazilian and Indigenous culture, history, concurrently creating immersive spaces. And, while some of these stories were co-created with us, they are still their stories. We must center marginalized voices, stories, and experiences, and give them the power of words.

  

Bibliography

DeVore, Jonathan D. 2014. “Cultivating Hope: Struggles for Land, Equality, and Recognition in the Cacao Lands of Southern Bahia, Brazil.” PhD, Ann Arbor, MI: University of Michigan.

Jackson, Michael. 2002. The Politics of Storytelling: Violence, Transgression, and Intersubjectively. Copenhagen, Denmark: Museum Tusculanum Press. Quoted in DeVore, Jonathan D. 2014. “Cultivating Hope: Struggles for Land, Equality, and Recognition in the Cacao Lands of Southern Bahia, Brazil.” PhD, Ann Arbor, MI: University of Michigan. 8.

Freire, Paulo. 1967. “Education as a Practice of Freedom” In The Brazil Reader: History, Culture, Politics, edited by James N. Green, Victoria Langland, and Lilia Moritz Schwarcz. Durham and London 396-398. Durham and London: Duke University Press. 2019.

Munz, Elizabeth A. 2017. “Ethnographic Interview.” In The SAGE Encyclopedia of Communication Research Methods, edited by Mike Allen. 2455 Teller Road, Thousand Oaks California 91320: SAGE Publications, Inc.