Mia Burdeau | 2023

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Emoções Misturadas e Médicos Desinteressados: Um exame das experiências das mulheres com a assistência à saúde materna em Serra Grande

Mia Burdeau | 2023

Serra Grande é uma cidade que se encontra no meio de uma luta pela saúde da mulher. A disputa entre as instituições biomédicas socializadas que buscam medicalizar o parto e o movimento do parto natural tem cultivado um ambiente médico incerto para as mulheres de Serra. Como estudante de antropologia com um interesse particular pela medicina, vim para esta cidade com a intenção de estudar esta dinâmica e se ela afecta diretamente a vida das pessoas que nela vivem. A questão que procurei responder foi se as narrativas estabelecidas entre médico e paciente influenciavam os padrões de decisão que as mulheres da Serra tomavam em relação aos seus cuidados de saúde.

Os métodos e as questões que tentei preparar antes da minha chegada foram informados por um académico que me interessou particularmente durante a minha investigação. As teorias de Paulo Freire em “Pedagogia do Oprimido” (Freire et al., 2022) discutem as maneiras pelas quais o sistema educacional no Brasil mantém a opressão através da falta de pensamento crítico. Em particular, fiquei muito intrigada com o que ele chama de “conceito ‘bancário’ de educação” (p. 72). Esse conceito descreve a educação no Brasil como “fundamentalmente narrativa” (p. 71), na medida em que “o conhecimento é uma dádiva concedida por aqueles que se consideram conhecedores àqueles que eles consideram não saber nada” (p. 72). Ele argumenta que “os oprimidos são vistos como a patologia da sociedade saudável, que deve, portanto, ajustar essas pessoas ‘incompetentes e preguiçosas’ aos seus próprios padrões, mudando sua mentalidade” (p. 74). Esta mentalidade, argumenta Freire, é mudada pelos educadores que “depositam” informação para eles absorverem ingenuamente. Se lhes falta a “consciência crítica” para compreenderem a sua própria opressão, nunca poderão libertar-se verdadeiramente dela (p. 73). Este enquadramento deixou-me a pensar se a relação entre médicos e doentes poderia ser de natureza semelhante. Será possível que os profissionais de saúde em Serra Grande simplesmente depositem conhecimento nos seus pacientes sobre os seus corpos e planos de cuidados?

Para além desta investigação de base, acreditava que os meus cursos de metodologia, as leituras etnográficas e a investigação em teoria sociológica e antropológica me preparariam adequadamente para o trabalho que tinha pela frente. Por isso, partia do princípio de que o trabalho de campo iria decorrer sem problemas. Elaboraria uma série de perguntas qualitativas para fazer e encontraria as respostas que procurava. O meu objetivo de examinar as narrativas entre médicos e doentes parecia ser fácil de alcançar.

Na primeira hora da minha primeira entrevista, descobri que este seria um processo muito mais complexo. Não há forma de abordar o tema da gravidez, do parto e do que vem a seguir sem ter de navegar por emoções pesadas. As histórias que ouvi dos meus interlocutores, fossem eles mães, parteiras, prestadores de cuidados de saúde ou administradores hospitalares, estavam todas repletas de momentos alegres e devastadores, que considerei difíceis de divulgar como resultados. Dei por mim a pensar como poderia reduzir estas histórias a apenas “dados”. Para um relatório tão curto como este, tive dificuldade em selecionar apenas algumas mulheres sobre as quais escrever e em reduzir as suas histórias a pequenos excertos, simplesmente por uma questão de brevidade.

A primeira entrevista que realizei teve lugar em casa da nossa mentora, Maira. Aí, falámos com a Dona Val (que prefere ser referida como Val Parteiro) e com a sua protegida, Susana. Essa entrevista daria o tom para as três semanas seguintes e rapidamente me forçaria a entender o quanto as emoções em torno da saúde da mulher estavam emaranhadas em torno das narrativas que moldavam as vidas das mulheres e mães que vivem em Serra Grande.

Quando entrei pela primeira vez em casa da Maira, o cheiro a alecrim e a incenso atingiu o meu nariz. A visão da sala de estar me encheu imediatamente de uma enorme sensação de nostalgia. O chão de azulejos brancos, a tapeçaria na parede e a ofrenda na parede à minha frente lembravam tanto a casa da minha abuela que era como se eu tivesse oito anos e passasse lá o meu fim de semana outra vez. Sentei-me mais perto da porta, peguei numa almofada para me aconchegar no colo e segurar para me sentir mais confortável antes do início da investigação.

Antes que pudéssemos começar as apresentações, Mirana foi a primeira a começar a chorar. O cheiro forte de alecrim tinha-se tornado irresistível e ela admitiu que a experiência era uma forte recordação da sua avó. Senti-me imediatamente aliviada por não ser a única a sentir-me assim; mas este alívio depressa se tornou sufocante e acabei por ter de lutar para manter a minha própria compostura. Sentia um peso no meu peito, que servia tanto de conforto como de recordação do que tinha faltado na minha vida desde a infância.

Tempo e atenção foram dedicados a confortar Mirana. O Dr. Stalcup deu-lhes um abraço caloroso e Maira foi buscar uma toalha quente e húmida que tinha sido embebida num remédio de ervas com aroma a alfazema. Confortar e cuidar bem de Mirana era uma segunda natureza para todos os outros na sala; era como se tivessem aperfeiçoado a arte de acalmar outra pessoa. Agora me pergunto se o pano de ervas que Maira ofereceu a Mirana seria semelhante ao que as mulheres que dariam à luz com Val Partiero e Susanna receberiam durante o parto.

Depois de Mirana ter sido consolada, Val Parteiro pediu-nos para nos apresentarmos uns aos outros e compartilhar com todos uma conexão ancestral na qual gostaríamos de nos concentrar durante o nosso tempo juntos. À medida que compartilhávamos as nossas histórias e chorávamos juntos, segurávamos um pequeno cristal nas nossas mãos. Eu partilhei a história da minha abuela, uma enfermeira que ajudou no meu próprio parto, enquanto as outras mencionaram histórias semelhantes das suas mães e avós que tiveram um impacto duradouro nas suas vidas. Só depois de termos estabelecido esta ligação emocional entre nós é que passámos ao aspeto mais técnico da nossa entrevista.

Durante este período, aprendemos sobre os pormenores do processo de Val Partiero e Susanna como parteiras que conduzem partos naturais. Ficámos a saber que Val Partiero e Susanna são únicas na medida em que afirmam ser “a única equipa na Serra Grande que faz um ‘parto natural’”. Para acrescentar a esta afirmação, Susanna observou que outras pessoas na Serra questionam os seus métodos porque adoptam uma abordagem mais biomédica. Susanna acredita que estão a “abrir caminho” para as pessoas que querem ser parteiras, mas não querem ir para medicina. A própria Susanna referiu que está atualmente fazendo um curso técnico para se tornar assistente de enfermagem.

Val Partiero continuou esta conversa, referindo que a competência e a experiência podem compensar a falta de ferramentas biomédicas. Ela disse que tem a “energia certa” e a “sensibilidade” para trabalhar apenas com a intuição. Quando esteve numa zona particularmente rural durante 10 anos, não tinha nenhum recurso médico. Nessa altura, afirma que “nunca houve uma morte”, mesmo quando ela própria teve de reanimar crianças. Isto, segundo ela, deve-se ao fato de o seu método se centrar muito nos cuidados pré-natais e neonatais, de modo a “manter os partos tranquilos”.

Quando as interroguei sobre o processo de parto, Val Partiero disse que é necessário “amor, calma e paciência” e que é crucial “[esperar] pelo momento certo para o bebé chegar”. Todos estes aspectos são aspectos do parto medicalizado que, na sua opinião, faltam nos hospitais. Segundo ela, o bebé escolhe quando quer chegar. Susanna acrescentou que, com as mulheres que estão a dar à luz, é importante não intervir a menos que seja absolutamente necessário.

No entanto, apesar da sua forte oposição às intervenções, Val Partiero observou que, por vezes, intervenções extremas como as cesarianas são uma necessidade para salvar vidas. Eles “não negam a ciência, [eles] respeitam- la”. Mas também se assegurou de mencionar que algumas mulheres nem sequer se dão ao trabalho de tentar um parto natural. Quando lhe perguntámos porque é que isso acontecia, ela explicou que poderia ser medo devido à falta de conhecimento do seu próprio corpo. Segundo ela, “temos o privilégio de dar à luz enquanto mulheres”. Este privilégio é algo que ela acredita ter-lhes sido dado pelo criador. Para ela, é uma questão de se conhecer a si própria, tanto física como emocionalmente.

Na minha pesquisa posterior a esta entrevista, encontrei-me fazendo paralelos entre os conceitos de Freire e os relatos escritos de interações entre médicos e pacientes no Brasil. Williamson (2021), na sua investigação etnográfica sobre o racismo obstétrico no Brasil, captou este fato numa entrevista a uma mulher chamada Vanessa. No relato de Vanessa sobre sua experiência de parto em um hospital público, ela disse: “[O médico] entrou, não disse ‘boa noite’, não perguntou meu nome, não disse nada. Acho que mal olhou para a minha ficha. E disse: 'Deita-te, que eu vou fazer o toque'...” Vanessa continuou a explicar como o médico lhe fez um exame cervical altamente invasivo antes de decidir o seu plano de tratamento para ela. Ela continuou, afirmando,

Depois olhou para mim, olhou para a enfermeira e disse: 'Ela já está com 10 centímetros... Pode mandá-la para uma cesariana'. E eu estava a meio de uma contração; nem sequer consegui perguntar-lhe porquê [cesariana]. Naquele momento, eu disse para mim mesma: 'Sabe que mais? Nem sequer vou perguntar. Vamos lá acabar com isto. [...] Ele não me mediu a tensão arterial. Não fez nada. Não fez nada. Não ouviu os batimentos cardíacos do bebé, nada. Simplesmente decretou que eu tinha de fazer uma cesariana para que [o parto] fosse mais rápido. (p. 180)

Esta experiência é muito semelhante à de uma mulher chamada Soraia, que conhecemos no nosso quarto dia de entrevistas.

Soraia, uma auxiliar de enfermagem que presta serviços à comunidade de mães em Serra Grande, é ela também mãe. O tempo que passámos a falar com Soraia foi num grupo com outras três mães. Durante a maior parte da entrevista, ela nos forneceu um histórico detalhado do ambiente médico em Serra Grande. Foi só perto do fim do nosso tempo juntas que ela se sentiu à vontade para compartilhar conosco a história do nascimento de seu único filho.

Ela nos contou que, quando percebeu que estava tendo contrações, foi até a clínica da comunidade. Foi lá que lhe disseram que deveria ir à Maternidade Santa Helena, em Ilhéus, mas outras mães de Serra haviam dito a ela que aquele não era o lugar ideal para dar à luz. Em vez disso, recomendaram a Maternidade Santa Isabel. Foi nesse momento da entrevista que a energia da mesa em que estávamos sentados mudou. Soraia ficou visivelmente tensa durante um momento, antes de recuperar a compostura. Ela fez questão de nos dizer que “ainda hoje está traumatizada” com a sua experiência no hospital.

Como prova da sua própria força, ela continua a contar a sua história de uma forma muito natural. Quando chegou ao hospital, deparou-se com a visão de um hospital degradado, em plena demolição. O interior do hospital era ainda pior. Não havia lençóis. O lixo estava espalhado por todo o hospital. Soraia fez uma breve pausa antes de nos contar que os cadáveres dos bebés falecidos eram atirados para os corredores em pilhas, em vez de serem tratados com respeito.

A conversa foi-se interrompendo lentamente. Rosemére, uma das três outras mães sentadas connosco durante esta entrevista de grupo, levou a mão à boca, visivelmente abalada com a história de Soraia. As restantes mães tiveram reacções semelhantes; ficámos todas chocadas. Apesar das nossas reacções, Soraia fez o seu melhor para continuar, explicando que, quando foi submetida a uma triagem, o médico tentou dizer-lhe que o bebé não estava previsto devido à sua pequena barriga. Apesar de ela ter provas de que estava grávida de nove meses, ele não acreditou e continuou a insistir que ela só estava grávida de seis meses e que, por isso, não devia estar em trabalho de parto.

Depois de passar toda a noite no hospital, sofrendo sozinha as contracções e traumatizada com o ambiente, Soraia tomou a decisão de chamar uma ambulância e ir para casa por volta das oito da manhã do dia seguinte. Ficou em casa até à uma da tarde, quando as contracções se tornaram ainda mais fortes. Uma amiga apareceu e perguntou-lhe porque é que ela não tinha ido ao hospital.

Depois de algum convencimento, voltaram à clínica da família em Serra Grande e apanharam uma ambulância para a Maternidade Santa Helena. As experiências vividas nas últimas vinte e quatro horas a deixaram “muito assustada e nervosa”, mas ela acabou descobrindo que a Santa Helena era um ambiente muito melhor para ela dar à luz. O seu filho nasceu pequeno, pesando apenas dois quilos e meio.

Soraia não foi a única a ter uma história difícil para partilhar durante esta entrevista. Duas das outras três mães, Rosemére e Maria, tinham histórias semelhantes que, de alguma forma, reflectiam a experiência de Soraia. Todas elas tinham sentido medo e dor devido a intervenções médicas inadequadas. Em vários momentos desta entrevista, tivemos de fazer uma pausa para cuidar daqueles de nós que ficaram sobrecarregados com a intensidade das suas histórias, oferecendo abraços calorosos e chá a quem precisasse.

Foi depois destes encontros que aprendi três coisas. Em primeiro lugar, não havia forma de obter um relato direto das narrativas estabelecidas entre médicos e doentes, porque eu não tinha a possibilidade de assistir aos encontros entre eles. Em vez disso, recebi relatos em segunda mão de interações que reflectiam o que os meus interlocutores consideravam ter tido mais impacto sobre eles. Isto levou-me a reavaliar as minhas expectativas em relação à natureza dos dados que recolhi.

Os relatos em segunda mão, embora não sejam tão “precisos” como eu tinha inicialmente planeado, podem se tornar ainda mais úteis quando se analisa a forma como a narrativa molda a ação. Ao recontar uma história, uma pessoa pode ter tendência para destacar os acontecimentos que mais a afectaram. Estes destaques podem ser os melhores indicadores da razão pela qual as pessoas na Serra podem escolher fazer uma coisa em vez de outra. No caso de Soraia, o que mais se destacou para ela foram as palavras de sabedoria dos seus pares que a levaram a agir diretamente contra o conselho da clínica, apenas para descobrir os horrores que existiam por detrás das portas da Maternidade Santa Isabel.

Em segundo lugar, tornou-se evidente que as emoções exacerbadas em torno dos temas da saúde materna, do parto e da saúde das mulheres em geral não só têm o potencial de afetar diretamente os padrões de recurso, como também têm o potencial de afetar a forma como as conversas em torno do assunto são conduzidas antes e depois do potencial dano ter sido causado. Pode não ser fácil para um prestador de cuidados de saúde educar uma mãe sobre o seu próprio corpo da forma “freiriana” ideal. As emoções das pessoas transbordam, os seus medos vêm à superfície e uma parte da conversa deixa de ser puramente “fatual” para passar a ser de conforto. No caso de Val Parteiro, Susanna e Maira, isso envolve ervas calmantes e abraços curativos.

Em terceiro lugar, nalguns espaços, há uma ausência de diálogo crítico entre o médico e o doente. No caso de Soraia, ela foi negligenciada simplesmente porque o médico não acreditou nela. Como postulado por Val Parteiro, algumas mulheres da Serra podem se recusar a tentar o parto natural simplesmente porque não têm o conhecimento necessário para entender qual plano de cuidados é mais adequado para elas.

Meu tempo em Serra Grande, como estudante matriculada num curso condensado de pesquisa de campo de três semanas, foi muito breve. No entanto, esta falta de tempo pouco afectou o valor que estas entrevistas breves, mas emocionalmente densas, proporcionaram à investigação em curso sobre a saúde materna na região. Apesar das minhas tentativas de fundamentar o meu trabalho de campo numa teoria exaustiva antes de começar, rapidamente se tornou evidente que as expectativas que eu tinha em relação às experiências que os meus interlocutores, colegas de turma e eu compartilhávamos foram rapidamente viradas do avesso. A saúde materna é muito mais complicada do que uma simples compreensão da narrativa, mesmo quando inserida num quadro completo como o fornecido por Friere. O seu trabalho constitui um ponto de partida suficiente, mas são necessários mais dados, mais conversas e, em última análise, mais trabalho de campo para estabelecer as bases para o desenvolvimento desta teoria. Só posso esperar que, ao contribuir com esta pequena peça para o puzzle mais vasto da saúde das mulheres em Serra Grande, tenha conseguido suscitar mais perguntas sobre o diálogo médico a serem feitas pelos meus sucessores nos próximos anos, quando se embarcarem na viagem emocional que eu empreendi.

Referências

Freire, P., Ramos, M. B., Macedo, D., & Shor, I. (2022). Capítulo 2. Em Pedagogy of the Oppressed 50th Anniversary Edition (pp. 71–87). Bloomsbury Academic.

Williamson, K. E. (2021). The iatrogenesis of obstetric racism in Brazil: Beyond the body, beyond the clinic. Anthropology & Medicine, 28(2), 172–187. https://doi.org/10.1080/13648470.2021.1932416


Entangled Emotions and Disinterested Doctors: An Examination Of Women’s Experiences With Maternal Healthcare In Serra Grande

Mia Burdeau | 2023

Serra Grande is a town caught in the middle of a struggle for women’s health.  The push and pull between socialized biomedical institutions that seek to medicalize childbirth and the natural birth movement has cultivated an uncertain medical environment for the women of Serra to navigate. As an anthropology student with a vested interest in medicine, I came to this town with the intention of studying this dynamic and if it directly affects the lives of the people who live within it. The question I sought to answer was if the narratives established between doctor and patient influenced the patterns of resort that the women in Serra took when it came to their healthcare.

The methods and questions I tried to prepare prior to my arrival were informed by a scholar I found particular interest in through my research. Paulo Freire's theories in “Pedagogy of the Oppressed” (Freire et al., 2022) discuss the ways in which the education system in Brazil maintains oppression through a lack of critical thought. In particular, I was most intrigued by what he calls the “‘Banking’ concept of education” (p. 72). This concept describes education in Brazil as “fundamentally narrative” (p. 71) in that “knowledge is a gift bestowed by those who consider themselves knowledgeable upon those whom they consider to know nothing” (p. 72). He argues that “The oppressed are regarded as the pathology of the healthy society, which must therefore adjust these ‘incompetent and lazy’ folk to its own patterns by changing their mentality” (p. 74). This mentality, Freire argues, is changed by educators “depositing” information for them to absorb naively. If they lack the “critical consciousness” to comprehend their own oppression, they can never truly break free from it (p. 73). Such a framework left me wondering if the relationship between doctors and patients could be similar in nature. Is it possible that healthcare practitioners in Serra Grande simply deposit knowledge into their patients about their bodies and plans of care?

In addition to this background research, I believed that my methodology courses, ethnographic readings, and research in sociological and anthropological theory would properly prepare me for the work I had ahead of me. So, I had presumed that the fieldwork would go smoothly. I would craft a series of qualitative questions to ask and I would find the answers I was looking for. My goal of examining the narratives between doctors and patients seemed to be easy to accomplish. 

Within the first hour of my first interview, I came to find that this would be a much more complex process. There is no way to approach the subject of pregnancy, childbirth, and what comes after without having to navigate heavy emotions. The stories I heard from my interlocutors, whether they were mothers, midwives, healthcare providers, or hospital administrators, were all filled with both joyous and devastating moments that I found were tough to disseminate as findings. I found myself wondering how I could strip these stories down to just “data”. For a report as short as this one, I have struggled to select only a few women to write about and to reduce their stories to short excerpts simply for the sake of brevity. 

The very first interview I conducted took place at our mentor, Maira’s, house. There, we would be speaking with Dona Val (who prefers to be referred to as Val Parteiro) and her mentee, Susanna. This interview would set the tone for the following three weeks and quickly force me to understand just how entangled the emotions surrounding women’s health were around the narratives that shaped the lives of the women and mothers who live in Serra Grande. 

When I first stepped into Maira’s home, the scent of rosemary and incense hit my nose. The sight of the living room immediately filled me with an overwhelming sense of nostalgia. The white tiled flooring, the tapestry on the wall, and the ofrenda on the wall opposite of me was so reminiscent of my own abuela’s house that it was like I was eight years old and spending my weekend there all over again. I took a seat closest to the door, grabbing a pillow to tuck in my lap and hold to give myself a sense of comfort before the research began.

Before we could start our introductions, Mirana was the first to begin weeping. The strong scent of rosemary had become overwhelming and she admitted that the experience was a strong reminder of her grandmother. I was immediately filled with a sense of relief that I was not the only one to be feeling this way; but this relief soon became suffocating and I found myself struggling to keep my own composure. I could feel a heaviness build in my chest, serving as both a comfort and a reminder of what had been missing from my life since childhood.  

Time and attention were devoted to comforting Mirana. Dr. Stalcup offered them a warm hug and Maira retrieved a warm and damp washcloth that had been soaked in a lavender-scented herbal remedy. Comforting and taking good care of Mirana was second nature to everyone else in the room; it was like they had perfected the art of soothing another person. I now find myself wondering if the herbal cloth that Maira had offered to Mirana was similar to what the women who would give birth with Val Partiero and Susanna would be given during labour.  

After Mirana had been comforted, Val Parteiro had us take the time to introduce ourselves to one another and share with everyone else an ancestral connection we would like to focus on during our time together. As we took our turns sharing our stories and weeping together, we held a small crystal in our hands. I shared the story of my abuela, a nurse who assisted in my own birth, while the others mentioned similar stories of their mothers and grandmothers who made a lasting impact on their lives. Only after we had established this emotional connection with one another did we move on to the more technical aspect of our interview.  

During this period of time we were enlightened about the intricacies of the Val Partiero and Susanna’s process as midwives that provide natural births. We learned that Val Partiero and Susanna are unique in that they claim to be “the only team in Serra Grande that do a ‘natural birth’.” To add onto this claim, Susanna noted that others in Serra question their methods because they take on a more biomedical approach. Susanna believes that they are “blazing a trail” for people who want to become a midwife, but not go into medicine. Susanna herself noted that she is currently in a technical course to become a nursing assistant.  

Val Partiero built off of this conversation by noting that skill and experience can make up for a lack of biomedical tools. She said that she has the “right energy” and “sensibility” to work off intuition alone. When she was in a particularly rural area for 10 years, she had no medical resources at all. Back then, she claimed that there was “never a death”, even when she had to resuscitate children herself. This, she said, is because her method has a huge focus on prenatal and neonatal care in order to “keep the births smooth”.

When I questioned them about the birthing process, Val Partiero said that there is a need for “love, calm, and patience” and that it is crucial “[to] wait for the right moment for the baby to arrive.” All these things are aspects of medicalized childbirth that she believes hospitals lack. According to her, the baby chooses when it wants to arrive. Susanna added that with women who are giving birth, it is important to not intervene unless it is absolutely necessary. 

Still, despite their strong opposition to interventions, Val Partiero noted that sometimes, extreme interventions like c-sections are a necessity to save lives. They “don’t deny science, [they] respect it.” But she also made sure to mention that some women do not even bother to try for a natural birth. When we asked her why this might be the case, she explained that it could be fear from a lack of knowledge of their own bodies. She said, “we have the privilege of bringing life as women”. This privilege is one that she believes was given to them by the creator. To her, it is a question of knowing oneself both physically and emotionally.

In my later research after this interview, I found myself drawing parallels between Freire’s concepts and the written accounts of interactions between doctors and patients in Brazil. Williamson (2021), in her ethnographic investigation of obstetric racism in Brazil, captured this in an interview with a woman named Vanessa. In Vanessa’s account of her birthing experience in a public hospital, she said, “[The doctor] came in, didn’t say ‘good evening’, didn’t ask my name, didn’t say anything. He barely looked at my chart, I think. And he said, ‘Lie down, I’m going to do the toque’…” Vanessa then went on to explain how the doctor had proceeded to give her a highly invasive form of cervical exam before deciding his plan of care for her. She continued, stating,

Then he looked at me, looked at the nurse, and said to the nurse, ‘She’s already at 10 centimeters…You can send her for a cesarean.’ And I was in the middle of a contraction; I couldn’t even ask him why [cesarean]. In that moment I said to myself, ‘You know what? I’m not going to even ask.  Let’s just get this thing over with.  [...] He didn’t take my blood pressure. He didn’t do anything. Nothing. Didn’t listen to the baby’s heartbeat, nothing. He simply decreed that I had to have a cesarean section to make [the birth] go faster. (p. 180)

This experience is eerily similar to the experience of a woman named Soraia, whom we met on our fourth day of interviews.

Soraia, a nursing assistant who services the community of mothers in Serra Grande, is a mother herself. Our time speaking with Soraia was in a group setting with three other mothers. For the majority of the interview, she provided us with a detailed history of the medical climate in Serra Grande. It was not until near the end of our time together that she felt comfortable sharing the story of the birth of her only son with us.

She shared with us that when she realized that she was having contractions, she walked to the community clinic. It was there that she was told that she should go to Maternidade Santa Helena in Ilhéus, but other mothers in Serra had told her that it was not an ideal place to give birth. Instead, they recommended Maternidade Santa Isabel. It was at this point in the interview that the energy at the table we had been sitting at shifted. Soraia became visibly tense for all but a moment before she regained her composure. She made sure to tell us that she is “still traumatized to this day” by her experience in the hospital.

In a testament to her own strength, she continued recounting her story in a matter-of-fact manner. Upon her arrival at the hospital, she was met with the sight of a run-down hospital in the midst of demolition. Inside the hospital was even worse. There were no bed sheets. Garbage was strewn all throughout the hospital. Soraia paused briefly before she told us that the corpses of deceased infants were tossed aside in piles in the hallways rather than cared for respectfully.

The conversation slowly came to a halt. Rosemére, one of the three other mothers sitting with us during this group interview, brought a hand up to her mouth, visibly shaken by Soraia’s story. The rest of us had similar reactions; we were all shocked to our cores. Despite our reactions, Soraia did her best to continue, explaining that, when she was triaged, the doctor tried to tell her the baby was not due because of her small belly. Even though she had proof that she was nine months pregnant, he would not believe her and kept insisting that she was only six months pregnant and therefore must not be in labour.

After spending the entire night in the hospital, left to suffer through her contractions alone and traumatized by the environment, Soraia made the decision to call an ambulance and go home at around eight in the morning the next day. She remained at home until one in the afternoon when her contractions became even stronger. Her friend came over and questioned why she had not gone to the hospital.

After some convincing, they went back to the family clinic in Serra Grande and took an ambulance to Maternidade Santa Helena. Her experiences in the past twenty-four hours made her “very scared and nervous”, but she came to find that Santa Helena was a much better environment for her to give birth. Her son was born small, weighing only two and a half kilograms.

Soraia was not alone in the fact that she had a difficult story to share during this interview. Two of the other three mothers, Rosemére and Maria, had similar stories that reflected Soraia’s experience in some capacity. The three of them had all experienced fear and pain due to inappropriate medical interventions. At multiple points during this interview, we had to take pause to care for those of us who became overwhelmed by the intensity of their stories, offering warm hugs and tea to whoever needed it.

It was after these encounters that I came to learn three things. First, there was no way that I could obtain a direct account of the narratives established between doctors and patients because I did not have the ability to sit in on the meetings between them. I was instead provided with secondhand accounts of interactions that reflected what my interlocutors found to have impacted them the most. This forced me to reevaluate my expectations for the nature of the data I collected.

Secondhand accounts, while not as “precise” as I had initially planned for, can prove to be even more useful when looking at how narrative shapes action. In retelling a story, a person might be inclined to highlight the events that impacted them the most. These highlights could serve to be the best indicators for why people in Serra might choose to do one thing over the other. In the case of Soraia, what stood out to her the most were the words of wisdom from her peers that drove her to act directly against the advice of the clinic, only to discover the horrors that existed behind Maternidade Santa Isabel’s doors.

Second, it became apparent that the heightened emotions around the subjects of maternal health, childbirth, and women’s health in general do not only have the potential to directly affect patterns of resort, but they have the potential to affect how conversations around the subject before and after the potential harm has been done. There may be no easy way for a healthcare provider to educate a mother about her own body in the ideal “Freirian” way. People’s emotions bubble over, their fears come to light, and a portion of the conversation shifts away from pure “fact” and towards providing comfort. In the case of Val Parteiro, Susanna, and Maira, that involves soothing herbs and healing embraces.

Third, in some spaces, there is an absence of critical dialogue between doctor and patient. In Soraia’s case, she was neglected simply because her doctor refused to believe her. As postulated by Val Parteiro, some women in Serra may flat out refuse to try for natural births simply because they lack the knowledge to understand what plan of care fits them best.

My time in Serra Grande as a student enrolled in a condensed, three-week field research course, was very brief. However, this lack of time did little to affect the value that these brief, yet emotionally dense, interviews provided for the ongoing research into maternal health in the region. Despite my attempts to ground my fieldwork in thorough theory prior to starting, it was quickly made apparent that the expectations that I had for the experiences my interlocutors, classmates, and I shared were quickly turned on their heads. Maternal health is much more complicated than a simple understanding of narrative, even when nestled within a thorough framework such as the one provided by Friere. His work acts as a sufficient starting point, but there is a need for more data, more conversations, and ultimately more fieldwork to be conducted to establish the groundwork for this theory to develop further. I can only hope that by contributing this small piece to the larger puzzle of women’s health in Serra Grande, I have successfully prompted more questions about medical dialogue to be asked by my successors when they embark on the emotional journey I have in the following years.

References

Freire, P., Ramos, M. B., Macedo, D., & Shor, I. (2022). Chapter 2. In Pedagogy of the Oppressed 50th Anniversary Edition (pp. 71–87). Bloomsbury Academic.

Williamson, K. E. (2021). The iatrogenesis of obstetric racism in Brazil: Beyond the body, beyond the clinic. Anthropology & Medicine, 28(2), 172–187. https://doi.org/10.1080/13648470.2021.1932416