Clare Walker | 2022

native foods prepared on a table

English follows


Para além do dendê e da mandioca: os cruzamentos potenciadores da alimentação e da agroecologia em Serra Grande, Bahia

Clare Walker | 2022

Ao caminhar com meus interlocutores humanos e mais que humanos1 em centros comunitários, lares familiares e espaços agroecológicos na região da Serra Grande no sul da Bahia, observei como a comida ocupa um papel único e multidimensional tanto em cozinhas, fazendas e mesas de jantar. Desde o lanche informal no pão de queijo até a gratidão satisfatória e silenciosa expressa durante uma festa preparada de moqueca e farofa, a comida tem a capacidade de ser um ato sobreposto de empoderamento para o self, para a comunidade e para a Terra. A partir de minha pesquisa, eu argumento que o alimento, ao se cruzar com modelos agroecológicos e praxis, é empoderadora dentro dos domínios sobrepostos do eu, da comunidade e da Terra. Como o alimento pode ser fortalecedor difere de pessoa para pessoa, mas um tema global a emergir é a capacidade do alimento de dar vida através das relações recíprocas que ele facilita, seja através da soberania alimentar, mobilidade econômica, renovação cultural ou restauração dos nutrientes de volta ao solo. Olhar para a alimentação como uma fonte de empoderamento é de grande relevância dado os relatos de meus interlocutores sobre a longa história de violência e tragédia agrícola na região, além de seus crescentes esforços para restaurar e renovar as relações com e entre os povos, comunidades e a terra.

Metodologia e Revisão da Literatura

Esta investigação foi conduzida através de um curso de investigação de campo de três semanas organizado pela Universidade de Ottawa em Serra Grande, Bahia. O grupo de quinze estudantes de graduação e pós-graduação foi dividido em quatro pequenos grupos de investigação, com o meu centrado especificamente na agroecologia. Embora o trabalho de campo se centrasse em torno de uma série de entrevistas semi-estruturadas e informais com membros da comunidade, grande parte da minha investigação cresceu a partir da cozinha, da alimentação e de me sentar em torno de uma mesa de cozinha, enquanto explorava iniciativas agroecológicas locais, falava com professores da comunidade local, e sentava-me nas cozinhas das pessoas durante estas três semanas. Composta por aprendizagem experimental, entrevistas informais, e, claro, pela alimentação, a minha investigação centra-se na posição dos alimentos dentro da agroecologia.

Enquadrei o entendimento e a práxis da agroecologia pelos meus interlocutores como um conjunto de relações humanas e mais que humanas. Extraio especificamente da investigação de Case Watkins, onde as policulturas de dendê nativo e mandioca da África Ocidental alimentaram a expansão cultural, culinária, e ambiental (2021). Segundo Watkins, as "sinergias regenerativas" dos esquemas agrobiodiversos podem ser entendidas e utilizadas como um meio de "proliferação da vida", em vez de simplesmente um meio de gerar lucro (2021, p. 268). Esta vida manifesta-se através das formas pelas quais as paisagens dendê inerentemente fortalecem as formas afro-brasileiras de conhecer e viver (Watkins, 2021). Watkins enfatiza que esta alimentação e abundância de vida e subsistência são essenciais para a capacitação cultural (2021). Usando esta abordagem no meu estudo, procuro olhar para além das categorias isoladas de "natureza" e "cultura", e em vez disso mostrar as formas como a alimentação pode alimentar e capacitar as comunidades da região da Serra Grande.

Além disso, me inspiro na abordagem às relações mais do que humanas do membro dos Potawatomi e ecologista Dr. Robin Wall Kimmerer no seu texto Braiding Sweetgrass (2015), bem como do trabalho do estudioso brasileiro Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido (1968), para fundamentar conceitualmente as palavras dos meus interlocutores. Também levei em conta os estudiosos brasileiros contemporâneos, como de Menezes, Pimentel, e Fajans, como as suas pesquisas em alimentação e prática agroecológica no Brasil contextualizam a complexa relação da Bahia com a alimentação, identidade cultural e terra (Pimentel & de Menezes, 2022; Fajans, 2008).

A análise é organizada pelo princípio andino da reciprocidade, que emergiu ao longo das entrevistas. Descrito como "Um para o eu, um para a família, e um para a Terra", este princípio é central para as propriedades potenciadoras da alimentação através das relações recíprocas que a rodeiam. Estes termos são inerentemente amplos, e utilizo-os como um instrumento metodológico com reconhecimento da ideia de que o self, a família, e a Terra têm uma diversidade de significados estratificados e complexos para os meus interlocutores. Assim, não pretendo equiparar a minha análise à totalidade da compreensão dos povos sobre o eu ou a Terra, mas sim utilizar estes termos como categorias mais vastas de relações recíprocas. Utilizo este princípio como um meio de reconhecer o papel do conhecimento indígena na informação da agroecologia, e também como um meio de ilustrar os elementos dinâmicos e sobrepostos de uma comunidade mais do que humana.

Limitações metodológicas

Em razão da natureza do trabalho intensivo de campo, os interlocutores foram selecionados por guias locais e pela professora antes da partida, e algumas identidades (como a dos povos indígenas) não estão representadas na investigação. Além disso, a minha compreensão das entrevistas é filtrada através de tradutores, o que afeta a nuance da conversa, bem como a minha capacidade de comunicar com indivíduos de forma mais espontânea. Dito isto, a comida e a cozinha proporcionam um canal de comunicação de imitação, corporificação, e os sentidos que existem para além do uso da linguagem falada. Além disso, a natureza intensiva do curso permitiu discussões aprofundadas com membros da comunidade, e a presença dos guias facilitou um nível de confiança que amplificou ainda mais a profundidade da discussão.

Resultados & Discussão

Alimentando-se a si próprio: “Não se tem dignidade quando se tem fome”

Sentada na cozinha de Dona Jo, uma líder comunitária no Bairro Novo, foi difícil não se sentir inútil em contraste com a sua energia magistral e quase vibrante. Tal como a feijoada borbulhando no fogão, a paixão de Dona Jo pela sua comunidade borbulhou-se nos seus gestos animados e vibrantes contos de histórias. Chegamos a sua casa às oito da manhã, onde Dona Jo já tinha preparado uma enorme quantidade de ingredientes para ocupar as nossas mãos durante as próximas três horas de preparação da comida. Eu alterno entre cortar, descascar e mexer, respondendo aos movimentos animados e precisos que demonstram a minha tarefa. Faço perguntas sobre a sua infância, a cozinha da sua mãe, e a sua compreensão da comida tradicional, para a qual ela entra em anedotas vivas e envolventes de preparação de mandioca amarga e bolo de milho com as suas irmãs. À minha pergunta sobre as propriedades potenciadoras da comida, ela responde que a comida não é potenciadora em si mesma, mas existe antes como uma peça de potenciação. Ela diz, respondendo à minha pergunta muito melhor do que eu a poderia ter feito, que não se pode ter dignidade se elas tiverem fome.

Tal resposta suscita os textos do intelectual brasileiro Paulo Freire, onde a fome é a chave para compreender a base dos seus escritos libertadores. No seu texto seminal, Pedagogia do Oprimido, a fome, em sentido literal e simbólico, é uma manifestação de opressão sistémica (Freire, 1968/2009). Partindo das suas próprias experiências de fome na sua infância, Freire procurou dedicar a sua vida e seus estudos a evitar as "dores de roer" da fome que ele (entre milhões de outros brasileiros) tinha experimentado (Schaull, 2009, p. 30).

Para Dona Jo, a transmissão oral de receitas manteve viva a comida tradicional, apesar das barreiras colocadas pelo analfabetismo. As mulheres que sabiam cozinhar podiam vender os seus produtos em feiras locais, dando-lhes rendimentos alternativos e aumentando as suas redes comunitárias. As suas memórias vívidas de comer com a sua família também criam vida. No seu cerne, a capacidade de se concentrar na construção de relações, na poupança de dinheiro e no desenvolvimento de passatempos, é fortalecedora, enquanto que a fome não o é.

Alimentando a comunidade: Mutirão

Num outro dia, visitamos a Escola Agrícola Comunitária Margarida Alves. Dona Janeira relata a longa e dinâmica história do espaço, falando em longas e ilustrativas anedotas como forma de ensino. Ela fala da agroecologia não como uma orientação estática para a agricultura, mas como um modo de vida que cuida das relações sociais e naturais. O nosso grupo visita a escola duas vezes durante a nossa viagem, e na segunda vez, recolhemos ervas, raízes, e bagas para cozinhar numa refeição. Dividimo-nos em grupos com outras da escola, onde eu, entre algumas outras mulheres, apanhava bagas vermelhas de uma árvore, alimentando as cabras bebés que ocasionalmente deixavam cair os frutos em volta dos nossos pés. Voltamos, e falo com Dona Janeira sobre as plantas medicinais do seu jardim, às quais ela partilha histórias enumeráveis de saúde e bem-estar mantidos através do cultivo e consumo intencional de espécies (tanto nativas como introduzidas).

Ao sentarmo-nos para comer, a conversa volta-se para um termo que já surgiu inúmeras vezes - mutirão. Traduzido livremente, trata-se de um conceito semelhante à ajuda mútua baseada na comunidade, o mutirão exerce uma comunicação construtiva, reflexão e esforço de colaboração para um objetivo comum, como, tal como foi mencionado por Dona Janeira, a dar uma festa surpresa. Tal como a agroecologia, o mutirão não tem um princípio nem um fim. O mutirão, para Dona Janeira, encapsula o papel dos alimentos dentro o conjunto da agroecologia; sem as muitas mãos para colher, preparar, cozinhar e servir, viver da própria terra é quase impossível. Além disso, Dona Janeira concentra-se na 'vida' e no 'viver' não em termos literais e biomédicos de consciência, mas sim como bem viver2, o que, de acordo com ela, encerra realização, satisfação e pertença. Para ela, bem viver é a chave para a agroecologia.

Apreciando a refeição que nos é apresentada, Dona Janeira afirma "É assim que a agroecologia se parece". Através do trabalho colaborativo do mutirão, a comida e, por extensão, o bem viver, emergem naturalmente (mas não facilmente). Intenção e cuidado são essenciais para este processo; embora viver completamente da terra possa não ser necessariamente a realidade, trabalhar com a terra tem o potencial de realizar o bem viver. Uma tal abordagem centra a família e a comunidade, tanto humana como não humana, como colaboradores num processo constante de mutirão. Desta forma, a alimentação (e o ecossistema de relações por detrás dela) é simultaneamente uma celebração do esforço de colaboração e uma transferência recíproca de energia, alimentando os corpos daqueles que gastaram a sua energia a trabalhar com a comunidade e com a Terra.

Considerando o estudo de Watkin sobre o dendê, o cultivo intercalar de mandioca e dendê enriqueceu o solo que foi esgotado por décadas de monocultura na região (2021). A entrelaçamento do dendê e da mandioca como produtos básicos da cozinha tradicional baiana enfatiza a sua posição no seio do conjunto da agroecologia (Watkins, 2021). Vindo de séculos de colonização, assim como décadas após décadas de transição forçada para culturas de monocultura e uso de produtos químicos venenosos, tanto os povos como a terra da Bahia estão a sofrer uma cura colectiva (Pimentel e de Menezes, 2022). Como tal, a implementação da agroecologia e a colheita de alimentos tradicionais dá espaço para a descolonização (Pimentel & De Menezes, 2022). Tal como expresso pelos Fajans, a comida baiana é essencial para a identidade cultural e renovação; não apenas no consumo, mas no cultivo, preparação, cozimento, e partilha (2008). Desta forma, é clara a ligação explícita de Dona Janeira dos alimentos que tínhamos preparado à encarnação da agroecologia; para além de simplesmente nos alimentar após uma longa manhã de escuta, colheita e preparação, os alimentos que temos diante de nós servem como manifestação celebrativa da nossa colaboração e sintonia com a Terra. Numa discussão com os membros do meu grupo no trajeto de carro de volta à nossa casa, sentimos colectivamente a noção de bem viver proliferar a nossa reunião através da comida que temos diante de nós.

Alimentar a Terra: "Dar vida de volta à terra".

Olhando em direção ao Parque Estadual da Serra de Conduru, sentamo-nos com Juan e Gili, dois artistas, agricultores agroecológicos, e migrantes que desenvolveram a Rede Povos da Mata, uma rede de agricultores agroecológicos organizados horizontalmente no sul da Bahia. Como os nossos outros interlocutores, eles falam de forma ilustrativa das suas relações humanas e mais do que humanas dentro da rede. Ao longo da nossa visita à quinta, Juan gesticula para plantar planta após planta, falando sobre eles em termos relacionais, semelhantes a histórias. Para mim, o que foi mais marcante foram os paralelos desenhados entre o cultivo de relações com as plantas e com as pessoas; dada a longa história de violência monocultural e colonial, Juan e Gili enfatizam a importância de renovar a confiança com (e entre) os povos locais e o ambiente local. Sentados ao ar livre na sua varanda, pergunto o que fez a comida pela rede, à qual respondem que a comida que cultivaram na sua quinta "devolveu a vida à terra". A sua abordagem ecoa os esforços da Teia dos Povos, que procura reconstruir relações e comunidades agroecológicas através da educação libertadora e do modelo de centros de Sousa Santos para uma ecologia do conhecimento, que reconhece a pluralidade de abordagens às relações com a Terra (de Sousa Santos, 2007; como citado em Pimentel & De Menezes, 2022). Esta abordagem pluralista e horizontal das comunidades agroecológicas é encarnada pela rede, e dá vida à terra ao dar poder a uma diversidade de perspectivas e ao abandonar a ética antropocêntrica de dominar o ambiente.

À medida que o dia continua, caminhamos com os interlocutores e a terra <?> para aprender mais sobre a horizontalização das comunidades agroecológicas. Pajé, outro membro da Rede que vive nas proximidades, estava no processo de expansão da sua casa e do seu esquema agroecológico. Pergunto a ele como mudou a sua dieta desde a expansão da sua varanda, à qual ele respondeu que nunca tinha comido fruta na sua infância, apesar de ter passado os seus dias na varanda em que o seu pai tinha trabalhado. Tal resposta é chocante, e ilustra a separação estratificante e violenta entre indivíduo e a Terra através do agronegócio capitalista e estruturado verticalmente (Pimentel & de Menezes, 2022). No desenvolvimento de uma relação mais fortalecida com a terra através da sua quinta e do seu envolvimento com a rede, há um orgulho na forma como Pajé interage com os alimentos e as suas culturas. De forma semelhante a Juan, ele aponta para as árvores dendê de que cuida, descrevendo meticulosamente os seus comportamentos, as suas relações, e os seus usos, pouco antes da sua família nos servir um banquete composto por palmito, moqueca, farofa, e cana-de-açúcar.

Fazendo eco das palavras do Dr. Robin Wall Kimmerer, que afirma, "Restaurar a terra sem restaurar as relações é um exercício vazio" (Kimmerer, 2015, p. 338), Juan, Gili, e Pajé reconhecem o peso de cultivar relações saudáveis uns com os outros e com a terra. Estas reconfigurações profundas e relacionais inseridas no conjunto mais que humano da agroecologia são necessárias para capacitar indivíduos de séculos de violência monocultural e colonial contra as comunidades mais que humanas dentro e fora da Serra Grande.

Conclusão & Investigação adicional

Através da minha investigação, observei o poder da comida, do solo até a mesa, e a vida que ela traz às comunidades mais do que humanas da Serra Grande. Na sobreposição de domínios do self, da família, e da Terra, os alimentos são utilizados para renovar e fortalecer as relações recíprocas. A comida dá vida a comunidades mais do que humanas no sul da Bahia, que historicamente têm sido alvo de tratamento extractivo e violento por parte das forças capitalistas colonizadoras.

Para além da posição da alimentação no seio do conjunto da agroecologia, a relação que os meus interlocutores têm com a alimentação mostra uma conceitualização mais ampla do empoderamento. O ressurgimento dos alimentos tradicionais e a fusão de alimentos foram outro tema emergente na minha investigação, e as suas intersecções com o empoderamento e/ou agroecologia é outra direcção potencial para a investigação futura na região. Da minha investigação, o empoderamento através da alimentação, aos meus interlocutores, foi o cuidado e a intenção sobrepondo as camadas do self, da comunidade, e da Terra, mas o empoderamento, como afirmou Dona Jo, vai para além da alimentação e da soberania alimentar. Estes focos de estudo existem para além do âmbito da minha investigação, mas fornecem indicações potenciais para futuros investigadores explorarem à medida que estas comunidades agroecológicas continuam a florescer.

Bibliografia

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Beyond dendê and manioc: The empowering intersections of food and agroecology in Serra Grande, Bahia

Clare Walker | 2022

In walking with my human and more-than-human1 interlocutors in community centres, family homes, and agroecological spaces in the Serra Grande region of Southern Bahia, I observed how food occupies a unique, multidimensional role in kitchens, farms, and dinner tables alike. Ranging from informal snacking on pão de queijo to the satisfying, silent gratitude expressed during a prepared feast of moqueca and farofa, food has the capacity to be an overlapping act of empowerment for the self, the community, and the Earth. From my research, I argue food, when intersecting with agroecological models and praxis, is empowering within the overlapping domains of the self, the community, and the Earth. How food may be empowering differs from person to person, but an overarching theme to emerge is food’s capacity to give life through the reciprocal relationships it facilitates, whether that be through food sovereignty, economic mobility, cultural renewal, or restoring nutrients back into the soil. Looking to food as a source of empowerment is of magnified relevance given my interlocuters’ accounts of the long history of agricultural violence and tragedy in the region, in addition to their growing efforts to restore and renew relationships with and between peoples, communities, and the land.

Methodology and Literature Review

This research was conducted through a three-week field research course hosted by the University of Ottawa in Serra Grande, Bahia. The group of fifteen undergraduate and graduate students was divided into four small research groups, with mine focusing specifically on agroecology. Although the field course centred around a series of semi-structured and informal interviews with community members, much of my research grew from cooking, eating, and sitting around a kitchen table, as I explored local agroecological initiatives, spoke with local community teachers, and sat in peoples’ kitchens during these three weeks. Informed by experiential learning, informal interviews, and, of course, eating, my research centers the position of food within agroecology.

I frame the understandings and praxis of agroecology by my interlocutors as an assemblage of human and more-than-human relationships. I draw specifically from the research of Case Watkins, where polycultures of native dendê and West African manioc have fueled cultural, culinary, and environmental expansion (2021). According to Watkins, the “regenerative synergies” of agrobiodiverse schemes can be understood and used as a means of “proliferating life”, rather than simply a means of generating revenue (2021, p. 268). This life manifests through the ways in which dendê landscapes inherently empower Afro-Brazilian ways of knowing and living (Watkins, 2021). Watkins emphasizes this nurturing and abundance of life and livelihood are essential to cultural empowerment (2021). Using this approach to my study, I seek to look beyond the isolated categories of “nature” and “culture”, and instead show the ways in which food can nurture and empower communities in the Serra Grande region.

Further, I draw from the approach to more-than-human relationships of Potawatomi member and ecologist Dr. Robin Wall Kimmerer in her text Braiding Sweetgrass (2015), as well as the work of Brazilian scholar Paulo Freire, Pedagogy of the Oppressed (1968), to conceptually ground the words of my interlocutors. I also centre contemporary Brazilian scholars, like de Menezes, Pimentel, and Fajans, as their research in food and agroecological practice in Brazil contextualizes Bahia’s complex relationship with food, cultural identity, and land (Pimentel & de Menezes, 2022; Fajans, 2008).

The analysis is organized by the Andean principle of reciprocity, which emerged throughout the interviews. Described as “One for the self, one for the family, and one for the Earth”, this principle is central to the empowering properties of food through the reciprocal relationships that surround it. These terms are inherently broad, and I use them as a methodological tool with acknowledgement of the idea that the self, the family, and the Earth have a diversity of layered, complex meanings to my interlocutors. Thus, I do not wish to equate my analysis to the entirety of peoples’ understandings of the self or the Earth, but rather I use these terms as broader categories of reciprocal relationships. I use this principle as a means of acknowledging the role of Indigenous knowledge in informing agroecology, and also as a means of illustrating the dynamic, overlapping elements of more-than-human community.

Methodological limitations

By nature of the intensive field course, the interlocutors were selected by local guides and the professor prior to departure, and some identities (like that of Indigenous peoples) are not represented in the research. Further, my understanding of the interviews is filtered through translators, which affects the nuance of conversation, as well as my ability to communicate with individuals more spontaneously. That said, food and cooking provide a channel of communication of imitation, embodiment, and the senses that exist beyond the use of spoken language. Further, the intensive nature of the course allowed for in-depth discussions with community members to occur, and the presence of the guides facilitated a level of trust which further amplified the depth of the discussion.

Results & Discussion

Feeding the self: “One can’t have dignity if they’re hungry”

Sitting in the kitchen of Dona Jo, a community leader in Bairro Novo, it was difficult not to feel useless in contrast to her masterful, near-vibrating energy. Like the feijoada bubbling on the stove, Dona Jo’s passion for her community bubbled over into her animated gesturing and vibrant story-telling. We arrived at her home at eight in the morning, where Dona Jo had already prepared a huge body of ingredients to occupy our hands for the next three hours of cooking. I float between chopping, peeling, and stirring, responding to the animated, precise motions demonstrating my task. I ask questions about her childhood, her mother’s cooking, and her understanding of traditional food, to which she goes into lively, immersive anecdotes of preparing bitter manioc and corn cake with her sisters. To my inquiry into the empowering properties of food, she responds that food is not empowering in and of itself, but it exists rather as a piece of empowerment. She says, answering my question far better than I could’ve asked it, that one cannot have dignity if they’re hungry.

Such an answer elicits the texts of Brazilian intellectual Paulo Freire, where hunger is key to understanding the basis of his liberatory writings. In his seminal text, Pedagogy of the Oppressed, hunger, in senses both literal and symbolic, is a manifestation of systemic oppression (Freire, 1968/2009). Drawing from his own experiences of hunger in his childhood, Freire sought to dedicate his life and scholarship to avoiding the “gnawing pangs” of hunger he (among millions of other Brazilians) had experienced (Schaull, 2009, p. 30).

For Dona Jo, the oral transmission of recipes kept the traditional food alive despite the barriers laid by illiteracy. Women who could cook were able to sell their goods at local fairs, giving them alternative income and growing their community networks. Her vivid memories of eating with her family, too, create life. At its core, the ability to focus on building relationships, saving money, and developing hobbies, is empowering, whereas starving is not.

Feeding the community: Mutirão

On another day, we visit the Margerida Alves Agroecological School (Escola Agrícola Comunitariá Margarida Alves). Dona Janeira recounts the long, dynamic history of the space, speaking in long, illustrative anecdotes as a way of teaching. She speaks of agroecology not as a static guideline for farming, but as a way of life that cares for social and natural relationships. Our group visits the school twice throughout our trip, and the second time, we collect herbs, roots, and berries to cook into a meal. We split into groups with others from the school, where I, among a few other women, picked red berries from a tree, feeding the occasionally dropped fruit to the baby goats circling our feet. We return, and I speak with Dona Janeira about the medicinal plants in her garden, to which she shares enumerable stories of health and wellness maintained through the intentional cultivation and consumption of species (both native and introduced).

As we sit down to eat, the conversation turns to a term that has come up numerous times- mutirão. Roughly translated to be a similar concept to community-based mutual aid, mutirão exercises constructive communication, reflection, and collaborative effort towards a common goal, like, as brought up by Dona Janeira, throwing a surprise party. Like agroecology, mutirão is without a beginning or an end. Mutirão, to Dona Janeira, encapsulates the role of food within the assemblage of agroecology; without the many hands to pick, prepare, cook, and serve, living off one’s land is near-impossible. Further, Dona Janeira focuses on ‘life’ and ‘living’ not in literal, biomedical terms of consciousness, but rather as bem viver2, which, according to her, encapsulates fulfillment, satisfaction, and belonging. To her, bem viver is the key to agroecology.

Gesturing to the meal before us, Dona Janeira states “This is what agroecology looks like”. Through the collaborative work of mutirão, food and, by extension, bem viver, emerge naturally (but not easily). Intention and care are essential to this process; although completely living off the land may not necessarily be the reality, working with the land has the potential to actualize bem viver. Such an approach centres the family and community, both human and non-human, as collaborators in a constant process of mutirão. In this way, food (and the ecosystem of relationships behind it) is both a celebration of collaborative effort and a reciprocal transfer of energy, nourishing the bodies of those who spent their energy working with the community and the Earth.

Drawing from Watkin’s study of dendê, the intercropping of manioc and dendê enriched soil that was depleted by decades of monocropping in the region (2021). The coalescence of dendê and manioc as staples of Bahiana traditional cuisine emphasizes their position within the assemblage of agroecology (Watkins, 2021). Coming from centuries of colonization, as well as decades upon decades of forced transition into monoculture crops and the use of poisonous chemicals, both the peoples and the land of Bahia are undergoing collective healing (Pimentel and de Menezes, 2022). As such, the implementation of agroecology and the harvesting of traditional foods gives space for decolonization (Pimentel & De Menzes, 2022). As expressed by Fajans, Bahiana food is essential to cultural identity and renewal; not just in consumption, but in cultivation, preparation, cooking, and sharing (2008). In this way, Dona Janeira’s explicit linking of food we had prepared to the embodiment of agroecology is clear; Beyond simply nourishing us after a long morning of listening, harvesting, and preparing, the food in front of us serves as a celebratory manifestation of our collaboration and attunement with the Earth. In a discussion with my group members on the car ride back to our house, we collectively felt the notion of bem viver proliferating our gathering through the food before us.

Feeding the Earth: “Giving life back to the land”

Looking out towards the Serra de Conduru State Park, we sit with Juan and Gili, two artists, agroecological farmers, and migrants who have developed the Rede Povos da Mata, a horizontally-organized network of agroecological farmers in Southern Bahia. Like our other interlocutors, they speak illustratively of their human and more-than-human relationships within the network. Throughout our tour of the farm, Juan gestures me over to plant after plant, speaking about them in relational, story-like terms. To me, what was most poignant was the parallels drawn between cultivating relationships with plants and with people; given the long history of monocultural and colonial violence, Juan and Gili emphasize the importance of renewing trust with (and between) local peoples and the local environment. Sitting outdoors on their wraparound porch, I ask what food has done for the network, to which they reply that the food they grew on their farm “gave life back to the land”. Their approach echoes the efforts of the People’s Web (a Teia dos Povos), which seeks to rebuild agroecological relationships and communities through liberatory education and centres de Sousa Santos’s model for an ecology of knowledge, which acknowledges the plurality of approaches to relationships with the Earth (de Sousa Santos, 2007; as cited in Pimentel & De Menezes, 2022). This pluralistic, horizontal approach to agroecological communities is embodied by the network, and it gives life to the land by empowering a diversity of perspectives and by abandoning the anthropocentric ethic of dominating the environment.

As the day continues, we walk with the interlocutors and the land to learn more about the horizontalizing of agroecological communities. Pajé, another member of the Rede who lives nearby, was in the process of expanding his home and agroecological scheme. I ask him how his diet has changed since expanding his farm, to which he replied that he had never eaten fruit in his childhood, despite spending his days on the farm his father had worked on. Such a response is shocking, and it illustrates the stratifying, violent separation of the individual from the Earth through capitalist, vertically-structured agribusiness (Pimentel & de Menezes, 2022). In developing a more empowered relationship with the land through his farm and his involvement with the network, there is a pride in how Pajé interacts with food and his crops. In a similar fashion to Juan, he points to the dendê trees he cares for, meticulously describing their behaviours, their relations, and their uses, shortly before his family serves us a feast consisting of palm heart, moqueca, farofa, and sugar cane.

Echoing the words of Dr. Robin Wall Kimmerer, who states, “Restoring land without restoring relationships is an empty exercise” (Kimmerer, 2015, p. 338), Juan, Gili, and Pajé acknowledge the weight of cultivating healthy relationships with one another and with the land. These deep, relational reconfigurations embedded within the more-than-human assemblage of agroecology are needed to empower individuals from centuries of monocultural, colonial violence against the more-than-human communities within Serra Grande and beyond.

Conclusion & Further Research

Through my research, I observed the power of food, from soil to table to soil again, and the life it brings to the more-than-human communities of Serra Grande. In the overlapping domains of the self, the family, and the Earth, food is used to renew and empower reciprocal relationships. Food gives life to more-than-human communities in southern Bahia, who have historically been on the receiving end of extractive, violent treatment by capitalistic, colonizing forces.

Beyond the position of food within the assemblage of agroecology, the relationship my interlocutors have towards food shows a broader conceptualizing of empowerment. Resurgences of traditional food and fusion food were another emerging theme in my research, and its intersections with empowerment and/or agroecology is another potential direction for future research in the region. From my research, empowerment through food, to my interlocutors, was the care and intention overlapping the layers of the self, the community, and the Earth, but empowerment, as stated by Dona Jo, goes beyond food and food sovereignty. These foci of study exist beyond the scope of my research, but they provide potential directions for future researchers to explore as these agroecological communities continue to flourish.

Bibliography

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