Anne Musene | 2022
English follows
Conhecimento e diálogo: a base para uma mudança efectiva
Anne Musene | 2022
Antes desta viagem ao Brasil, minhas idéias sobre o que constituía o turismo giravam em torno da economia, por assim dizer, como utilizar destinos diversos e únicos para maximizar os lucros e se entregar a uma indústria que poderia potencialmente aumentar a taxa de emprego, o que teria efeitos positivos sobre a situação econômica de uma comunidade. Sempre pensei que o turismo se baseava no conforto, destinos panorâmicos, lazer para aqueles que podiam arcar com ele e interações mínimas não intencionais, que eram instrumentos utilizados para obter benefícios financeiros. Eu não havia considerado que "no outro lado da moeda" o envolvimento em tal atividade econômica poderia trazer questões como deslocamento, extração e exploração de recursos naturais e comunitários. Portanto, entrei em campo pensando que os fatores econômicos influenciaram principalmente o turismo baseado na migração e que os resultados de tal migração são em sua maioria favoráveis. Entretanto, durante a primeira semana de entrevistas e visitas, minha perspectiva sobre o que constituía um turismo real, sustentável e comunitário foi rapidamente alterada.
Já havia passado uma semana desde que nosso grupo chegou a Serra Grande, Brasil. Após longos dias de entrevistas e muito trabalho, foi-nos concedido o privilégio de experimentar o turismo comunitário, uma forma alternativa de turismo liderado por moradores locais que se concentra em experimentar autênticos intercâmbios culturais através de visitas comunitárias e interações e atividades experimentais. Com a orientação de um de nosso tutor, Paulo, pudemos participar da experiência de Cacau e passar a tarde na Fazenda Juerana. No início desta expedição, aprendemos sobre a história da produção de Cacau na região, experimentamos os efeitos curativos de caminhar pela floresta enquanto aprendemos sobre o mesmo e descobrimos uma cachoeira fantástica na qual desfrutamos de nosso tempo nadando. À tarde, compartilhamos um brunch incrível composto de moqueca vegetariana, uma versão da cozinha tradicional baiana acompanhada de arroz e outros pratos secundários, e tivemos conversas e interações interessantes com aqueles que operam a Fazenda. Esta experiência nos ajudou a compreender a cultura de cultivo baiana e suas lutas ao longo dos anos, além de nos permitir um intercâmbio cultural mais verdadeiro; um intercâmbio no qual estão envolvidas conversas e escuta atenta, o que permitiu um nível de conexão, compreensão e compartilhamento de conhecimento que o turismo convencional não poderia necessariamente produzir. Por conseguinte, esta experiência destacou um dos elementos vitais desta forma de turismo, o diálogo. Através desta arte de conversação, os locais defendem sua cultura e valores, comunicando suas histórias, compartilhando seus conhecimentos e efetuando mudanças.
Junto com esta experiência, durante o trabalho de campo, percebi que, considerando as recentes tendências migratórias, o Turismo de Base Comunitária (TBC), traduzido como Turismo Comunitário, surgiu e ainda é usado como uma forma de resistência na qual os locais têm a oportunidade de defender e valorizar sua cultura, suas histórias e seus conhecimentos. Tem sido um meio pelo qual eles protegem sua comunidade contra os estrangeiros¹, recuperam suas terras e lutam contra os remanescentes da era colonial. Esta forma de resistência parece depender principalmente de diálogos entre os líderes da comunidade, a própria comunidade e pessoas de fora. No entanto, a pesquisa realizada durante minha curta estadia no Brasil parece sugerir que o meio pelo qual a comunidade tenta realizar a mudança como forma de resistência é o mesmo que se apresenta como um obstáculo para o desenvolvimento do movimento de resistência ao turismo comunitário, se não for devidamente abordado.
Este trabalho de pesquisa será delineado da seguinte forma: primeiramente, será dada uma breve visão geral da abordagem metodológica utilizada durante toda a pesquisa. Em segundo lugar, haverá uma seção combinada que incluirá tanto os resultados quanto uma discussão sobre o mesmo, que será construída para um resumo das principais ideias deste documento, e, finalmente, uma explicação provisória.
Abordagem metodológica
Como em toda pesquisa, a possibilidade de encontrar ideias e valores conflitantes é infinita, por isso esta foi uma das minhas principais preocupações antes de embarcar nesta experiência. No sábado, 30 de abril, tivemos o prazer de nos encontrar com o Professor Jonathan Warren, autor de "Racial Revolutions: Antiracism and Indian Resurgence in Brazil“ e produtor do filme De Baixo para Cima - Mudanças Revolucionárias no Brasil. Durante este encontro, fomos autorizados a lhe fazer diferentes perguntas a respeito de seu trabalho. Aproveitando meu momento, eu fiz minha pergunta: Como você lida com valores conflitantes quando está em campo? A resposta do professor Warren ficou comigo durante o resto desta jornada. Ele transmitiu a importância da reflexividade e como a busca de descobertas que contradizem as suposições que desafiaram nossas visões de mundo foram boas e promissoras. Ele enfatizou ainda que é preciso haver uma "aceitação radical de estar aberto ao que ainda não se sabe". Com isto em mente, eu me concentrei em estar atenta e aberta a respostas que contradiziam minha compreensão do tópico. Consequentemente, concentrei-me também no que, por que, e como as pessoas fizeram suas reivindicações.
Para esta pesquisa, utilizei dados qualitativos de uma viagem de três semanas de curso de pesquisa de campo ao nordeste do Estado da Bahia no Brasil. Quinze estudantes de diversas formações acadêmicas participaram deste curso de pesquisa de campo, coordenado pela Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Ottawa, no distrito de Serra Grande e Itacaré, com o objetivo de colocar em prática técnicas antropológicas para aprender sobre diferentes mudanças sociais e liderança local nos diferentes campos como saúde materna, migração e turismo, agroecologia e raça e gênero. No grupo de migração e turismo, particularmente, nós, com a ajuda de nosso tutor e tradutor, Adriá, tivemos entrevistas semi-estruturadas e grupos de foco com líderes comunitários, empresários, funcionários do governo, organizações não-governamentais e pessoas da comunidade. Além disso, também me baseei em observações dos procedimentos da comunidade, conversas informais com residentes da comunidade e meus colegas de classe, e informações trazidas durante as reuniões de classe.
Foram apresentados múltiplos desafios ao coletar os dados para este trabalho de pesquisa. Primeiro, deve-se notar que certas especificidades e idéias foram perdidas durante a tradução, tanto das perguntas feitas quanto das respostas dadas. Como forma de abordar esta questão, as perguntas foram traduzidas e revisadas dentro do grupo e pelo tutor antes das reuniões. Isto teve um efeito adicional de mostrar cuidado, importância e respeito pelas pessoas que entrevistamos. Além disso, também analisamos as informações recebidas durante as reuniões com o grupo e individualmente para garantir uma boa compreensão do que havia sido discutido. Em segundo lugar, ver que tínhamos diversos tópicos como um grupo, encaixar as perguntas de todos no tempo limitado com os entrevistados foi uma dificuldade. Durante as reuniões da manhã, asseguramos que cada indivíduo tinha uma pergunta pertinente relacionada ao tópico da pessoa e organizamos diversas outras perguntas que foram abertas o suficiente para abordar os tópicos de todos e dar espaço para novas informações. No entanto, não tivemos a oportunidade de aprofundar as discussões pertinentes aos nossos tópicos. No entanto, apesar desses desafios, os dados obtidos permitiram o foco deste trabalho de pesquisa.
Conclusões/Discussão
No trecho do livro de Paulo Freire “Educação como Prática de Liberdade,” ao propor um novo programa ao qual a educação deve aderir, o autor afirma que "[a]dquirir alfabetização é mais do que dominar psicológica e mecanicamente as técnicas de leitura e escrita. É dominar essas técnicas em termos de consciência; compreender o que se lê e escrever o que se compreende; é comunicar-se graficamente". Ao longo de seu livro, ele enfatiza a importância de proporcionar educação através de discussões, o que permitiria o despertar da "consciência crítica" em vez de pressionar por uma educação que estabelece a "consciência ingênua", que apenas "vê a causalidade como um fato estático, estabelecido, e assim", como ele argumenta, "é enganada em sua percepção". Ao se basear nos ensinamentos de Freire, um paralelo pode ser traçado com o foco deste trabalho de pesquisa.
Quando se fala de turismo comunitário, as pessoas da região parecem entender tal prática de maneira diferente e não sabem o que significa e como defini-lo. O nível de entendimento entre os líderes e a comunidade parece ser diferente. Na tarde do nosso primeiro dia de entrevistas, tivemos um grupo de foco composto por seis moradores da casa onde residimos. Durante este encontro, percebi que quando questionados sobre suas ideias sobre turismo comunitário, muitos tinham uma noção diversa do que ele constituía. Além disso, os entrevistados reconhecem que o conceito em si ainda não foi bem compreendido. Alguns moradores locais definiram o turismo comunitário como uma seleção de atividades que acontecem na comunidade, tais como a iniciativa Ferinha, a feira de sábado de manhã, o Sarau, uma feira cultural, passeios de bicicleta e serviços comunitários. No entanto, alguns de nossos entrevistados argumentaram que a discussão de tal conceito não é muito promovida, portanto o conceito não é bem conhecido e é, em sua maioria, pouco claro para a maioria dos membros da comunidade.
Um tema recorrente poderia ser identificado durante a entrevista em grupo de foco: a necessidade de discussões mais eficazes. Enquanto se discute o que significa para eles o turismo baseado na comunidade e como eles procuram encontrar soluções para suas carências, em meio a toda a incerteza de seu significado e das soluções propostas, é perceptível que, embora não diretamente abordado, há uma falta de discussões práticas em torno dele. Durante a reunião, sentiu-se que, para alguns dos entrevistados, teria sido a primeira vez, ou um dos momentos breves, em que eles se sentaram para discutir sobre sua compreensão do turismo comunitário. A partir desta entrevista, é possível deduzir que a falta de discussão traz uma falta de compreensão do conceito.
Além disso, a falta de discussões pode ser um obstáculo para o desenvolvimento do TBC, um obstáculo para a mudança, um conceito apresentado por Junior, presidente da Associação Comercial da Serra Grande e proprietário do Hotel Serra Azul no bairro de Sargi. Durante nossa reunião, Junior falou sobre turismo comunitário com paixão e entusiasmo. Ele acredita firmemente que é necessário e bom para a comunidade, que pode trazer uma forma de mudança social para que a comunidade possa se proteger mutuamente e manter sua comunidade unida. Com isso, ele considerou que avançar com esta ideia foi confrontado com múltiplos desafios existentes dentro e fora da comunidade. Para Junior, para que o turismo baseado na comunidade cresça, várias mudanças devem ser feitas. Entre as que ele mencionou estão a mudança de comportamento, de geração, e cultural. Em poucas palavras, uma mudança no legado de comportamentos e cultura de gerações coloniais. Ele afirmou que porque existe uma cultura de individualidade decorrente do período colonial e não uma de redes, "as empresas [não] pensam coletivamente". Poder-se-ia dizer que esta falta de pensamento coletivo pode resultar de uma falta de compreensão e medo de que as más experiências se repitam.
Na semana seguinte, tivemos uma entrevista fascinante com uma das líderes mais influentes do turismo comunitário em Serra Grande, mais especificamente, na comunidade do Bairro Novo. Seu nome é Donna Jo. Lembro-me de estar particularmente entusiasmada com este encontro com ela, pois tinha ouvido tantas coisas boas sobre seu caráter e trabalho enquanto discutia as entrevistas de outros grupos com ela durante nossas discussões da tarde 1.
Durante nossa reunião, Donna Jo mencionou que "as pessoas da comunidade temiam novas propostas para problemas antigos", portanto, há um grau de resistência e medo a novos projetos. Pode-se dizer que este medo é decorrente de uma falta de compreensão e medo remanescentes dos tempos coloniais. Ela usa o exemplo de Gente do Conduru para explicar as fontes desta resistência e deste medo. Esta iniciativa começou com o apoio financeiro de pessoas de fora da comunidade com a intenção superficial de ajudar o mesmo. O projeto foi uma vanguarda que permitiu benefícios pessoais e o avanço da agenda para aqueles que poderiam se beneficiar dele. Enquanto isso, nenhum financiamento foi encaminhado para as pessoas da comunidade. Ela promove a discussão e discute brevemente como o turismo baseado na comunidade (TBC) foi inicialmente financiado pelo Funbio [Fundo Brasileiro para a Biodiversidade] e outros atores. Ela nos disse que esta iniciativa de mecanismo financeiro utilizou fotos expondo a comunidade para avançar seus propósitos. Não houve um cuidado intencional com as pessoas da comunidade. Assim, o projeto foi interrompido quando a reserva de dinheiro foi esgotada. Ela enfatiza que a comunidade nunca foi o núcleo dos projetos, portanto, estes foram colocados em espera. Depois de reler minhas anotações, notei que parecia que este mecanismo financeiro lucrou com a falta de compreensão das pessoas em relação a este novo conceito.
No final destes exemplos, Donna Jo enfatizou a importância da localização destes projetos. "Eles têm que ter o envolvimento da comunidade local", disse ela. Dessa forma, "o dinheiro fica com a comunidade". Assim, quando ela veio, ela recuperou estes projetos enquanto adotava uma perspectiva comunitária. No entanto, é necessário um nível de compreensão para um melhor planejamento da localização de um projeto. Donna Jo concorda que a compreensão do conceito de turismo baseado na comunidade requer educação. O tipo de educação a que Donna Jo parece se referir é a educação por meio de discussões. Em sua organização, eles trabalham dia-a-dia para ajudar a entender este conceito, fazendo a ponte entre os líderes e a comunidade, reforçando a confiança, a transparência e a coesão através da insistência, da fala e do trabalho com, e não para, a comunidade.
Outros entrevistados também mencionaram a importância do conhecimento e da compreensão no desenvolvimento do turismo baseado na comunidade e na mudança efetiva. Robson, que é responsável por projetos de desenvolvimento turístico em Tabôa e presidente da Associação Guia, e alguém que esteve envolvido na promoção do turismo comunitário, também considera o conhecimento como sendo essencial. Para ele, "conhecimento é poder"³, daí porque ele gostaria que "[seus] filhos tivessem uma vasta compreensão desta terra". Atualmente, ele está buscando outro diploma, uma licença em geografia, que lhe permitiria tornar-se um professor e transmitir o conhecimento que possui sobre a terra. Além disso, o líder da Fazenda Quilombo d'Oiti, Jorge Rasta⁴, salienta que a comunicação, juntamente com a água e a terra, são os princípios fundamentais aos quais o turismo comunitário deve aderir. Ele acredita que estes estão entrincheirados no movimento de transformação social. Ao final da entrevista com Jorge, ele nos levou a entender que o turismo comunitário tem que ser sobre intercâmbio e comunicação, e não sobre extração. O TBC trata de compartilhar conhecimento através de discussões; só então a mudança pode começar a acontecer, e só então eles podem romper a onipresença da era colonial.
Extraído dos ensinamentos de Paulo Freire e das entrevistas, é possível deduzir que, para que o turismo comunitário seja usado como ferramenta de mudança, é preciso haver um movimento de conscientização, uma onda de entendimento que só poderia acontecer através do compartilhamento de conhecimento por meio de diálogos. Portanto, a afirmação de que a mudança só acontece através da apreensão do conhecimento e do conhecimento não pode ser obtida sem o engajamento em diálogos. Em outras palavras, o compartilhamento do conhecimento pela mediação das discussões leva ao entendimento, o que permite o desenvolvimento da consciência crítica, o que permitirá passar de uma realidade estática para uma realidade onde a mudança social está acontecendo constantemente.
Conclusão
O diálogo desempenha um papel vital na concepção, sustentabilidade, e finalidade do turismo comunitário, pois garante o compartilhamento de conhecimentos e estabelece o entendimento. O estabelecimento do entendimento através do diálogo traz o que Paulo Freire denomina de consciência crítica, que ajuda uma comunidade a passar de uma realidade estática para ter as ferramentas para a mudança social. Portanto, o conhecimento e a comunicação parecem ser as principais ferramentas para a mudança, pois o compartilhamento de conhecimento através de diálogos efetivos leva a uma melhor cooperação e, portanto, a um melhor planejamento para o turismo comunitário, como abordado por Junior em sua entrevista.
No entanto, é necessário reconhecer que o avanço do turismo comunitário é um processo lento, pois muitas pessoas ainda não entendem o mesmo. Portanto, ao criar novos projetos de turismo comunitário e ao tentar mudar, ondas de resistência e medo parecem retardar seu desenvolvimento. Entretanto, este processo de conscientização e compreensão deve ser lento para garantir uma boa compreensão do turismo comunitário e de seu futuro sustentável. No final de nossa entrevista com Donna Jo, eu havia perguntado se ela poderia nos dar um conselho de despedida, uma lição de vida que ela poderia nos dar com base em sua experiência. Com muita sabedoria, Donna Jo respondeu: "tudo o que a gente se propõe a fazer na vida, que a gente faça com muito amor". Como líder, é impossível ter diálogo e transmitir conhecimento se não for feito com amor, e o amor é paciente. Assim, as discussões devem ser feitas com abertura de espírito e paciência a fim de garantir uma boa compreensão do turismo comunitário e contribuir para seu desenvolvimento.
1. Traduzido como estrangeiros.
2. É importante notar que Dona Jo é uma pessoa forte, uma militante, como ela se define; ela “não deixa as pessoas tirarem ela de sua cadeira.” Ela consegue transitar em diferentes setores e tem diálogos com o setor público. Essa característica, na minha opinião, permite que ela seja vista como essa liderança forte. Ela se define como uma ponte para o diálogo entre a burguesia e os pobres. Ela assegura que a burguesia respeita seu trabalho e as pessoas para quem ela trabalha.
3. “Conhecimento é poder.”
4. É relevante mencionar que a Fazenda Quilombo d’Oiti, que é composta de descendentes de ex-escravos de origem africana e que foram considerados os pioneiros do TBC na Bahia e no Brasil.
Referências
Paulo Freire. (1967). “Education as a Practice of Freedom,” em The Brazil reader: History, culture, politics, ed. James N. Green, Victoria Langland, & Lilia Moritz Schwarcz (Duke University Press), pp. 397.
Knowledge and dialogue: the basis for efective mudança
Anne Musene | 2022
Before this trip to Brazil, my ideas of what constituted tourism revolved around economics, so to say, how to use diverse, unique destinations to maximize profits and indulge in an industry that could potentially increase the rate of employment, which would have spillover effects on the overall economic standing of a community. I always thought that tourism was based on comfort, scenic destinations, leisure for those who could afford it, and unintentional minimum interactions, which were instruments used for financial benefits. I had not considered that “on the other side of the coin,” engaging in such economic activity could bring issues like displacement, extraction, and exploitation of natural and community resources. Therefore, I went into the field thinking that economic factors primarily influenced migration-based tourism and that the results of such migration are mostly favourable. However, during the first week of interviews and tours, my perspective on what constituted real, sustainable, and community-driven tourism was quickly changed.
It had already been a week since our group arrived in Serra Grande, Brazil. After long days of interviews and hard work, we were granted the privilege of experiencing community-based tourism, an alternative form of tourism led by locals that focuses on experiencing authentic cultural exchanges through the medium of community visits and interactions and experiential activities.
With the guidance from one of our tutors, Paulo, we were able to partake in the Cacao experience and spent the afternoon in the Fazenda Juerana. At the beginning of this expedition, we learned about the history of Cacao production in the area, experienced the healing effects of walking through the forest while learning about the same, and discovered a fantastic waterfall in which we enjoyed our time swimming. Towards the afternoon, we shared an amazing brunch composed of vegetarian moqueca, a version of traditional Bahian cuisine accompanied by rice and other side dishes, and had interesting conversations and interactions with those operating the Fazenda. This experience brought us a step further in understanding the Bahian cultivation culture and their struggles throughout the years, as well as allowing us to engage in a more truthful cultural exchange; one in which conversations and attentive listening are involved, which allowed for a level of connection, understanding, and knowledge sharing that standard mainstream tourism could not necessarily produce. Accordingly, this experience has highlighted one of the vital elements of this form of tourism, dialogue. Through this art of conversation, the locals defend their culture and values by communicating their stories, sharing their knowledge, and effecting change.
Along with this experience, during the fieldwork research, I have noticed that considering the recent trends in migration, Turismo de Base Communitária (TBC), translated as Community-based Tourism, has emerged and is still used as a way of resistance in which the locals are given a chance to defend and value their culture, stories, and knowledge. It has been a medium by which they protect their community against estrangeiros¹, recuperate their land, and fight against the remnants of the colonial era. This form of resistance seems to rely mostly on dialogues between the community leaders, the community itself, and outsiders. Nonetheless, the research carried out during my short duration in Brazil seems to suggest that the medium by which the community attempts to effect mudança (change) as a way of resistance is the same that poses as a stumbling block for the further development of community-based tourism resistance movement, if not appropriately addressed.
This research paper will be outlined as follows. First, a brief overview of the methodological approach used throughout the research will be given. Second, there will be a combined section which includes both the findings and a discussion of the same, which will build towards a summary of the main ideas of this paper, and, finally, a tentative claim.
Methodological approach
As with all research, the possibility of encountering conflicting ideas and values is infinite, so this constituted one of my main worries before embarking on this experience. On Saturday, April 30, we had the pleasure of meeting with Professor Jonathan Warren, author of Racial Revolutions: Antiracism and Indian Resurgence in Brazil and producer of the film De Baixo para Cima-From the Bottom Up: Revolutionary Changes in Brazil. During this meeting, we were allowed to ask him different questions regarding his work. Taken my moment, I asked my question: How do you deal with conflicting values when on the field? Professor Warren’s response stuck with me for the rest of this journey. He conveyed the importance of reflexivity and how looking for findings that contradict assumptions that challenged our worldviews were good, promising findings. He further stressed that there needs to be a “radical acceptance of being open to what you don’t know yet.” With this in mind, I focused on being attentive and open-minded to responses that contradicted my understanding of the topic. Consequently, I also concentrated on what, why, and how people made their claims.
For this research, I used qualitative data from a three-week-long field research course trip to the northeast State of Bahia in Brazil. Fifteen students from diverse academic backgrounds participated in this field research course, coordinated by the Faculty of Social Sciences of the University of Ottawa, in the district of Serra Grande and Itacaré, with the purpose of putting into practice anthropological techniques to learn about different social changes and local leadership in the different fields such as maternal health, migration and tourism, agroecology, and race and gender. In the migration and tourism group, particularly, we, with the help of our tutor and translator, Adriá, had semi-structured interviews and focus groups with community leaders, entrepreneurs, government officials, non-governmental organizations, and people from the community. Moreover, I also draw on observations of the proceedings of the community, informal conversations with residents of the community and my classmates, and information brought about during class meetings².
Multiple challenges were presented when collecting the data for this research paper. First, it is worth noticing that certain specificities and ideas were lost during translation, both from questions asked and answers given. As a way to tackle this issue, questions were translated and revised within the group and by the tutor before the meetings. This had an additional effect of showing care, importance, and respect for the people we interviewed. Moreover, we also went through the information received during the meetings with the group and individually to ensure a good understanding of what had been discussed. Second, seeing that we had diverse topics as a group, fitting everyone’s questions in the limited amount of time with the interviewees was a hardship. During the morning meetings, we secured that each individual had one pertinent question related to the person’s topic and organized diverse other questions that were open enough to address the topics of everyone and give room for new information. However, we did not have the chance to deepen discussions pertinent to our topics. Nonetheless, despite these challenges, the data obtained allowed for the focus of this research paper.
Findings/Discussion
In the excerpt of Paulo Freire’s book Education as a Practice of Freedom, while proposing a new syllabus to which education should adhere, the author claims that “[t]o acquire literacy is more than to psychologically and mechanically dominate reading and writing techniques. It is to dominate these techniques in terms of consciousness; to understand what one reads and to write what one understands; it is to communicate graphically”. Throughout his book, he makes an emphasis on the importance of providing education by engaging in discussions, which would allow the awakening of “critical consciousness” instead of pushing for an education that sets “naïve consciousness,” which only “sees causality as a static, established fact, and thus,” as he argues, “is deceived in its perception.” By drawing on Freire’s teachings, a parallel can be drawn with the focus of this research paper.
When talking about community-based tourism, the locals seem to understand it differently and are uncertain of what it means and how to define it. The level of understanding between the leaders and the community seems to differ. In the afternoon of our first day of interviews, we had a focus group composed of six locals at the house where we resided. During this meeting, I noticed that when asked about their thoughts on community-based tourism, many had a diverse idea of what it constituted. Additionally, the interviewees acknowledge that the concept in itself was not yet well understood. Some locals delignated community-based tourism as a selection of activities that happen in the community, such as the Ferinha initiative, the Saturday morning fair, the Sarau, a cultural fair, bike trips tours, and community services. However, some of our interviewees argued that not much promotion is done, so the concept is not well known and is mostly unclear to most community members.
A recurrent theme could be identified during the focus group interview: the need for more effective discussions. While discussing what community-based tourism means for them and how they would go about finding solutions for its lacks, amidst all the uncertainty of its meaning and the solutions proposed, it is noticeable that, although not directly addressed, there is a lack of practical discussions around it. During the meeting, it had felt like, for some of the interviewees, it would have been the first time, or one of the evanescent moments, in which they sat down to discuss about their understanding of community-based tourism. From this interview, it is possible to deduce that a lack of discussion brings a lack of understanding of the concept.
Furthermore, a lack of discussions can be an obstacle to the development of TBC, a stumbling block for mudança, a concept brought forward by Junior, the president of Serra Grande’s Trade Association and owner of the Serra Azul Hotel in the quarter of Sargi. Throughout our meeting, Junior had talked about community-based tourism with passion and enthusiasm. He firmly believed that it is necessary and good for the community, that it could bring a form of social change in which the community can protect each other and keep their community united. Withal, he considered that moving forward with this idea was met with multiple challenges existing within and outside of the community. For Junior, for community-based tourism to grow, various changes must be made. Among the ones he mentioned were mudança de comportamento, de geração, e cultural (a change in behaviours, generations, and culture). Briefly put, a change in the legacy of colonial generational behaviours and culture. He stated that because a culture of individuality stemming from the colonial period and not one of networks exists, “the businesses [do not] think collectively.” It could be said that this lack of collective thinking may stem from a lack of understanding and fear that bad experiences would be repeated.
The following week, we had a fascinating interview with one of the most influential leaders of community-based tourism in Serra Grande, most specifically, in the community of Bairro Novo. Her name is Donna Jo. I remember being particularly excited about this meeting with her as I had heard so many good things about her character and work while discussing other groups’ interviews with her during our afternoon class discussions.
During our meeting, Donna Jo mentioned that “people in the community feared new proposals for old problems,” so there is a degree of resistance and fear to new projects. This fear can be said to stem from a lack of understanding and fear of the remnants of the colonial times. She uses the example of Gente do Conduru to explain the sources of this resistance and fear. This initiative started with the financial support of people outside the community with the superficial intent of helping the same. The project was a forefront that allowed personal benefits and agenda advancement for those who could beneficiate from it. Meanwhile, no funding was forwarded to the people of the community. She furthers the discussion and briefly discusses how community-based tourism (TBC) was initially funded by Funbio [Fundo Brasileiro para a Biodiversidade] and other players. She told us that this financial mechanism initiative used photos exposing the community to advance their purposes. There was no intentional care for the people of the community. Thus, the project was halted when the money reserve was depleted. She emphasizes that the community was never the core of the projects, so these were put on standby. After re-reading my notes, I noticed that it felt like this financial mechanism profited from people’s lack of understanding regarding this new concept.
At the end of these examples, Donna Jo stressed the importance of localizing these projects. “They have to have local community involvement,” she said. In that way, “money stays with the community.” Thus, when she came, she recovered these projects while adopting a community perspective. Nonetheless, a level of understanding is needed for better planning to localize a project. Donna Jo agrees that understanding the concept of community-based tourism requires education. The type of education that Donna Jo seems to refer to is education by means of discussions. In her organization, they work day-by-day to help understand this concept by bridging the divide between the leaders and the community, reinforcing trust, transparency, and cohesiveness through insistence, speaking, and working with, and not for, the community.
Other interviewees have also raised the importance of knowledge and understanding in developing community-based tourism and effective mudança. Robson, who is responsible for tourism development projects at Tabôa and president of the Guide Association, and someone who has been involved in the promotion of community-based tourism, also considers knowledge as being essential. For him, “conhnocimento é poder,”³ hence why he would like “[his] children to have a vast understanding of this land.” He is currently pursuing another degree, a license in geography, that would allow him to become a teacher and impart the knowledge he has of the land. Moreover, the leader of the Fazenda Quilombo d’Oiti, Jorge Rasta⁴, stresses that communication, along with water and land, are the core principles to which community-based tourism should adhere. He believes that these are entrenched in the social transformation movement. Towards the end of the interview with Jorge, he brought us to understand that community-based tourism has to be about exchange and communication, not extraction. TBC is about sharing knowledge through discussions; it is only then that change can begin to happen, and only then can they break through the pervasiveness of the colonial era.
Drawing from Paulo Freire’s teachings and the interviews, it is possible to deduce that in order for community-based tourism to be used as a tool for mudança, there needs to be a movement of conscientização (conscientization), a wave of understanding that could only happen through sharing knowledge by means of dialogues. Hence, the claim that mudança only happens through the apprehension of knowledge and knowledge cannot be gained without engaging in dialogues. In other words, knowledge-sharing through the medium of discussions leads to understanding, which allows for the development of critical consciousness, which will allow for a move from a static reality to one where social change is constantly happening.
Conclusion
Dialogue plays a vital role in the conception of community-based tourism, its sustainability, and its purpose, as it ensures knowledge sharing and establishes understanding. The establishment of understanding through dialogue brings about what Paulo Freire refers to as critical consciousness, which helps a community move from a static reality to having the tools for social change. Therefore, knowledge and communication seem to be the primary tools for mudança, as knowledge-sharing through effective dialogues leads to better cooperation and thus better planning for community-based tourism, as addressed by Junior in his interview.
Nonetheless, it is necessary to acknowledge that the advancement of community-based tourism is a slow process as many people do not yet understand the same. Hence, when creating new projects of community-based tourism and attempting mudança, waves of resistance and fear seem to slow down its development. However, this process of conscientizing and building understanding must be slow to ensure a good grasp of community-based tourism and its sustainable future. At the end of our interview with Donna Jo, I had asked if she could give us one parting piece of advice, one life lesson that she could give us based on her experience. With much wisdom, Donna Jo answered: “todo o que a gente se propõe a fazer em la vida que a gente faza com muito amor” (“everything that we propose to do in life, we do with much love”). As a leader, it is impossible to have dialogue and impart knowledge if it is not done with love, and love is patient. Thus, discussions are to be made with an openness of mind and patience in order to ensure a good understanding of community-based tourism and contribute to its development.
1. Translated as foreigners.
2. It is worth noticing that Donna Jo is a strong person, a militante, as she calls herself; she does “not let people move her from her chair.” She manages to permeate with the different sectors and have dialogues with the public sector. This characteristic, in my opinion, allows her to be seen as this strong, forte figure, liderança. She defines herself as a bridge for dialogue between the burguesia and the poor. She ensures that the burguesia respects her work and the people she works with and for.
3. “Knowledge is power.”
4. It is worthwhile mentioning that the Fazenda Quilombo d’Oiti, which is a community composed of descendants of ex-slaves of African origin and who were considered to be the Pioneers of TBC in Bahia and Brazil.
References
Paulo Freire. (1967). “Education as a Practice of Freedom,” in The Brazil reader: History, culture, politics, ed. James N. Green, Victoria Langland, & Lilia Moritz Schwarcz (Duke University Press), pp. 397.